Resumo

Este artigo busca discutir um tema basilar para a área de Administração, e em especial para o Marketing, que é a compreensão do mercado. Pela visão dominante no ambiente de negócios e no meio acadêmico, o mercado é considerado apenas espaço de trocas entre produtores e compradores, onde o desafio para as organizações é “descobrir” as oportunidades que estão “lá” e elaborar uma estratégia que melhor se adapte à situação. Porém, essa visão tem sido muito questionada. Serão discutidas aqui, algumas possíveis causas e como uma abordagem alternativa pode propiciar uma melhor compreensão do mercado.

Para muitos pesquisadores, essa visão dominante de entender o mercado tem se mostrado limitante, pois parece não dar conta de responder aos desafios atuais na geração de conhecimento na área da Administração como um todo. Assim, surgem as perguntas: Mas, por quê? E, como superá-la? A partir disso, o objetivo deste artigo é discutir algumas razões que levam a essa visão limitante e apresentar como uma abordagem alternativa, no caso os Estudos Construtivistas de Mercado (ECM), pode contribuir na superação dessas causas e por consequência ser uma maneira mais consistente de compreender o mercado.

A discussão teórica envolve algumas causas da origem, consolidação e do tornar limitante a visão dominante de mercado, que são: colonialidade do saber, pressupostos ontoepistemológicos positivistas e o paradoxo estabilidade – mudança. Como abordagem alternativa tem-se os Estudos Construtivistas de Mercado, em que a compreensão do mercado se baseia na análise dos actantes e suas práticas: de trocas, normativas e representacionais, junto com os respectivos subprocessos. A configuração dos mercados é entendida pelo movimento de translação e os enquadramentos e transbordamentos gerados no mercado.

Os ECM como alternativa à visão dominante positivista, têm a base nos pressupostos interpretativistas, pois partem de uma ontoepistemologia definida como construtivismo prático, apresentando uma distinção com o construtivismo social. Quanto ao paradoxo estabilidade – mudança os ECM não buscam relação de causa e efeito em uma realidade a se descobrir, mas foca nas translações, ou seja, as interações e práticas dos actantes e os transbordamentos e reenquadramentos. Em relação à colonialidade do saber, os ECM têm o conhecimento, a prática e os interesses, como uma resistência a uma verdade dada.

Dessa forma, considera-se os ECM como uma teoria alternativa consistente e capaz de superar as causas que, na visão de vários pesquisadores, tornam a visão dominante sobre o mercado limitante. Pois, abre a possibilidade de entender o mercado de uma maneira que mostra como este se configura, e que não é algo dado a prior e independente do que o compõe, ainda mais, considera válido o conhecimento gerado a partir do contexto imediato e de como os actantes humanos o compreendem e o sentem, dando mais “humanidade” para a ciência.

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