1 - Lucas Casagrande UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
2 - Bárbara Eduarda Nóbrega Bastos UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Departamento de Ciências Administrativas (DCA)
3 - Tiago Franca Barreto UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE) - FCAP
Reumo
O conceito de samaritano corporativo é de um administrador que promulga a justiça a partir de uma motivação deôntica, ou seja, a partir de virtudes morais. Para isso, recorremos à conceituação de bom samaritano enquanto ensinamento cristão para demonstrar que o que os autores chamam de bom samaritano é a antítese do conceito milenar. Utilizamos as conceituações de racionalidade instrumental e substantiva para demonstrar que, por definição, corporações são guiadas pela primeira, enquanto que qualquer ato ético de “bom samaritano” é guiada pela segunda, mesmo quando ela conflita com a primeira.
O objetivo deste ensaio é realizar uma análise crítica do conceito de samaritano corporativo, apresentada por Zwank et al. (2024).
Um dos conceitos mais adotados de responsabilidade social empresarial foi o de Carroll (1979), que separa a RSE em quatro dimensões. No entanto, tais responsabilidades são tratadas como desejáveis e não devem se contrapor às obrigações fiduciárias das empresas, como a geração de lucro. Frente a isso, Zwank et al. (2024) apresentam a ideia de samaritano corporativo, que oferece uma contradição em termos próprios. Utilizamo-nos das conceituações de Illich (2005) de bom samaritano, bem como de Guerreiro Ramos (1981) de racionalidade instrumental e substantiva, além da conceituação de Schon (2011)
Argumentamos que este conceito é uma contradição em termos. O samaritano corporativo é o administrador que promulga a justiça a partir de uma motivação de virtude moral. Para isso, recorremos à conceituação de bom samaritano enquanto ensinamento cristão para demonstrar que o que os autores chamam de bom samaritano é a antítese do conceito milenar, uma vez que a parábola diz respeito a um samaritano que desafiou a moral. Ademais, utilizamos a racionalidade instrumental e substantiva para demonstrar que, por definição, corporações são guiadas pela primeira, enquanto que qualquer ato ético de “bo
Em última análise, o bom samaritano original é um ser que preza seu chamado ou, em termos seculares, sua racionalidade substantiva acima de qualquer cálculo utilitário, de qualquer razão instrumental. E, por evidente que seja, não custa repetir: uma corporação é uma organização pautada pela razão instrumental e qualquer bondade feita só pode ser justificada dentro de tal racionalidade.
Illich, I. (2005). The rivers north of the future: The testament of Ivan Illich. House of Anansi.
Ramos, A. G. Administração e contexto brasileiro: esboço de uma teoria geral da
administração. 2ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1983.
Ramos, A. G. (1989). A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações (2a ed). Rio de Janeiro, RJ: Fundação Getúlio Vargas.
Zwank, J., Diehl, MR. & Gollwitzer, M. (2024). The Corporate Samaritan: Advancing Understanding of the Role of Deontic Motive in Justice Enactment. Journal of Business Ethics, 190, 607–623.