Resumo

A relação consumo e crédito tem um caráter de centralidade na vida cotidiana das pessoas. Em uma sociedade, onde os objetos são dotados de valor, de signo e conferem status aos seus portadores (Baudrillard, 2005), os sujeitos são continuamente estimulados a realizarem novas aquisições para poderem se sentir reconhecidos socialmente (Da Silva Lyra, 2001). Esta lógica da sociedade de consumo toma como critério a capacidade de consumir para realizar a inclusão ou exclusão social dos indivíduos (Bauman, 2008).

Quais são as representações sociais do conceito de endividamento na visão das mulheres? Conhecer as representações sociais do conceito de endividamento na visão das mulheres.

Rodríguez (2020), em sua pesquisa desenvolvida somente com mulheres, também atestou à moralização da dívida, que por meio de depoimentos, as participantes destacaram os sentimentos de vergonha, do medo e da ansiedade quando a dívida não podia ser saldada, sendo obrigadas então, como solução, a pedir ajuda à família ou amigos, contraindo assim, um novo endividamento. A autora ainda explica que “no Brasil, ‘ter o nome sujo’ condensa justamente essa vergonha, é uma marca moral e culpabilizante por não ter conseguido saldar a dívida” (Rodríguez, 2020, p. 15).

Pesquisa de campo realizada com 310 mulheres, selecionadas por amostragem não probabilística e por conveniência. Aplicou-se a técnica de evocação livre de palavras por meio de um questionário digital distribuido no Instagram e WhatsApp. Para a análise da RS, realizou-se uma estratégica metodológica que envolveu a utilização de duas técnicas lexicométricas: (1) a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e (2) a Análise de Correspondência Múltipla (ACM). Para a realização das análises mencionadas, utilizou-se como suporte o software IRAMUTEQ.

De modo geral, sobre a estrutura da representação social do conceito de endividamento na visão das mulheres e sua dinâmica, entende-se que as mulheres ao “financeirizarem” sua vida, devido aos fatores que indiquem um aumento do consumo e do uso do crédito, deslocam-se de uma visão individualista, até certo ponto julgadora, para uma visão de aspectos cada vez mais controladores da dívida e das consequências da moralização, do “se sentir julgada”.

Como resultado, as representações sociais desse conceito na visão delas abrange três dimensões: (1) “Causas”, que engloba aspectos intrínsecos e extrínsecos ligados ao consumo e as limitações financeiras que representa por maioria, mas não exclusivo, fatores individualizantes da dívida; (2) a dimensão “Meio”, que é a relação credor-devedor e está fortemente ligada aos mecanismos de controle instituídos da dívida e (3) a dimensão “Consequências”, que é compreendida com os sentimentos negativos e estão ligados aos aspectos moralizantes da dívida.

BAUDRILLARD, J. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2005. BAUMAN, Z. Vida para consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. CAVALLERO, L.; GAGO, V. Una lectura feminista de la deuda. Luxemburgo: Fundación Rosa, 2019. HENNIGEN, I. Superendividamento dos consumidores: uma abordagem a partir da Psicologia Social. Revista Subjetividades, v. 10, n. 4, p. 1173-1201, 2010. RODRIGUEZ, G. Sobre o endividamento, as vozes das mulheres. In: O Sistema financeiro e o endividamento das mulheres. Rio de Janeiro: Instituto Eqüit, 2020.