Resumo

A partir da interpretação do olhar dos gestores, discutiu-se como as organizações incorporam a tradição e lidam com mudanças internas e externas ao longo do tempo, sendo a tradição um elemento estruturante e estruturado da e pela longevidade das organizações pesquisadas. Refletiu-se também sobre a perspectiva de capacidades dinâmicas nesse cenário, destacando suas atividades organizacionais (sensing, seizing e reconfiguring) e delineamentos na perspectiva da prática social.

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a tradição como um elemento dinamicamente incorporado, sob perspectiva da prática, em organizações longevas no contexto do setor gastronômico paulistano.

A problemática deste estudo se iniciou justamente com a curiosidade de investigar como as organizações poderiam incorporar a tradição como uma prática e lidar com as mudanças internas e externas ao longo do tempo. As organizações que suscitaram tal interesse caracterizam-se como organizações longevas do setor gastronômico paulistano. A tradição é aqui entendida como um conjunto de “crenças, costumes e práticas conscientemente transmitidos que expressam identificação com um passado compartilhado" (Dacin; Dacin; Kent, 2019, p. 19, tradução nossa).

Em relação aos procedimentos metodológicos, trata-se de uma pesquisa abdutiva em que se adotou a abordagem qualitativa utilizando-se da estratégia de estudo de caso. Os dados foram analisados com base no método de Gioia et al. (2013), que consiste em abordar a revisão teórica como um pano de fundo e utilizar categorias pré-estabelecidas, ao mesmo tempo que proporciona ao pesquisador flexibilidade analítica para dar conta do surgimento de novas categorias.

A tradição neste estudo compreendeu-se como dimensão social mas também enquanto elemento relacional às práticas organizacionais ou conjuntos de práticas incorporadas e que, no seu uso, constroem e são reconstruídas pelo contexto da dinâmica organizacional. Assim, argumentou-se que a tradição se configura nas organizações longevas por meio das tensões dualísticas pelas quais passam essas empresas ao longo da sua história: pressão por conservação e pressão por mudança.

Com os resultados aqui elencados, pontuam-se cinco contribuições relacionadas à tradição dinamicamente incorporada: a) a tradição não é estática; b) não existe paradoxo entre tradição e inovação; c) o modelo construído a partir da articulação teórica e empírica evidencia “vontade” de permanecer e “vontade” de mudar; d) conceitua-se o que são organizações tradicionais; e, e) a tradição se configura como elemento estruturante.

DACIN, M. Tina; DACIN, Peter A.; KENT, Derin. Tradition in organizations: A custodianship framework. Academy of management annals, v. 13, n. 1, p. 342-373, 2019. RESE, Natália et al. O vir a ser da estratégia como uma prática social. Revista de Administração Contemporânea, v. 21, p. 227-248, 2017. GIOIA, Dennis A.; CORLEY, Kevin G.; HAMILTON, Aimee L. Seeking qualitative rigor in inductive research: Notes on the Gioia methodology. Organizational research methods, v. 16, n. 1, p. 15-31, 2013.