Resumo

Os estágios desempenham um papel fundamental na formação de estudantes, proporcionando o desenvolvimento de competências essenciais para sua inserção no mercado de trabalho. No entanto, esse ambiente revela disparidades significativas de gênero, em que o trabalho feminino é desvalorizado, resultando em remunerações inferiores, condições laborais precárias e obstáculos para a progressão na carreira. Este estudo explora essas dinâmicas, analisando as complexidades e desafios enfrentados por mulheres nessa fase inicial da carreira.

Diante da problemática da disparidade de gênero e da falta de estudos abrangentes nesta área durante o período da graduação, este estudo visa analisar a percepção de estudantes de Administração sobre as desigualdades de gênero no ambiente de trabalho durante suas experiências de estágio. Além de ampliar a pesquisa para temas ainda pouco explorados, reconhece-se que os estagiários e estagiárias de hoje serão os futuros empregados e empregadores, assumindo parte da responsabilidade e da esperança na promoção de avanços em relação à igualdade de gênero no mundo profissional.

No mercado de trabalho, ocorrem relações entre trabalhadores e empregadores (Oliveira; Piccinini, 2011). O termo "gênero" refere-se às construções sociais dos papéis de homens e mulheres, enquanto "sexo" diz respeito a aspectos biológicos (Teixeira; Lopes; Gomes Júnior, 2019). Há uma segregação significativa de gêneros no meio do trabalho: a segregação horizontal limita homens e mulheres a diferentes profissões (Barros, 2008; Cappelle; Melo; Souza, 2013), enquanto a segregação vertical cria o "teto de vidro", barrando as mulheres de cargos superiores (Barreira, 2021).

Realizou-se uma pesquisa de campo, em que foram aplicados 103 questionários com um total de 36 questões com os estudantes de Administração com estágio em andamento de duas universidades públicas de Florianópolis. Para a análise dos dados utilizou-se o método levantamento e, sendo que, estes passaram por três etapas: seleção, codificação e tabulação (Marconi; Lakatos, 2010).

Em geral, destacaram-se no mercado de trabalho desigualdades de gênero como assédio moral e sexual, além de uma disparidade média na bolsa de estágio entre mulheres e homens, apesar da percepção majoritária de igualdade salarial para funções semelhantes. Quanto à conciliação entre vida pessoal, acadêmica e estágio, não foram encontradas diferenças significativas, possivelmente devido à maioria dos respondentes ser jovem, solteira e sem filhos. Houve também uma percepção predominante de liderança masculina, suscitando reflexões sobre o teto de vidro.

O estudo demonstrou que a maioria dos respondentes reconhece a experiência do estágio como uma contribuição positiva tanto para o processo de formação quanto para o contato com o mercado de trabalho. Entretanto, a questão do assédio foi identificada como a mais crítica dentre as desigualdades de gênero, sendo as mulheres as principais vítimas de possíveis casos de assédio moral e sexual. Essa situação é especialmente preocupante, pois o período de estágio é fundamental para o desenvolvimento profissional e pessoal das estudantes.

CAPPELLE, M. C. A.; MELO, M. C. O. L.; SOUZA, N. L. Mulheres, trabalho e administração. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 2, n. 2, p. 161-191, 2013. DA CRUZ, Gabriel Grilo; DE SOUZA, Rosanea Meneses. Uma experiência do que é ser mulher em uma sociedade: Uma revisão narrativa. Revista Saúde Multidisciplinar, 2021. TST - Tribunal Superior do Trabalho. Desigualdade salarial entre homens e mulheres evidencia discriminação de gênero no mercado de trabalho, 2023. SAUNDERS, Mark; LEWIS, Philip; THORNHILL, Adrian. Research methods for business students. Pearson education, 2009.