Resumo

O Brasil é o país que mais assassina pessoas trans no mundo. O conservadorismo social e político no país potencializam o biopoder, que visa controlar a sexualidade e o direito à vida (Foucalt, 1998). Os discursos políticos conservadores brasileiros são uma das principais oposições políticas as demandas de reconhecimento e direitos trans (Silva, 2021; Solano, 2018). A Deputada Federal Erika Hilton, é atualmente uma figura de destaque no trans ativismo, que disputa espaço de deliberação política contra a marginalização histórica das pessoas trans.

O trabalho aborda a participação trans na política questionando: quais desafios os discursos trans ativistas revelam sobre o reconhecimento dos corpos trans no Brasil? O objetivo é compreender a constituição do corpo trans na política brasileira, a partir do discurso de candidatura de Erika Hilton para a câmara dos deputados em 2022.

O corpo e suas performances são construídos subjetiva e individualmente na repetição ou ruptura subversiva das normas da cisheteronormatividade (Butler, 2018). Em contraposição a tal, o conservadorismo brasileiro é altamente transfóbico, utilizando discursos sociopolíticos sobre a educação e cultura como alvos da disputa ideológica anti-gênero e pânico moral (Silva, 2021). O trans ativismo, que apesar de mais visível pelas mudanças na forma de comunicar, não é novo, porém, é uma ferramenta essencial para disputar o reconhecimento trans no campo político (Silveira, Goerch e Silveira, 2023).

Parte-se de uma abordagem qualitativa, para compreender o contexto, valores e significados da realidade trans na política (Richardson, 2007). Quanto aos fins, caracteriza-se como um estudo descritivo visando descrever os fenômenos e identificar os fatores correlacionados a ocorrência do tema (Gil, 2008). Possui como corpus, o discurso de apresentação da Erika Hilton enquanto candidata para à deputada federal em 2022 disponível no canal do Mídia Ninja no YouTube. Para análise dos dados foi utilizada a abordagem da análise crítica do discurso, a partir de Fairclough (2001) e Van Dijk (2000).

O estudo revela que o discurso de candidatura de Erika Hilton aponta a interrelação de sua trajetória de vida permeada pela transfobia que remete a sua identidade enquanto mulher trans e negra. O vídeo de candidatura se pauta no trans ativismo denunciando a exclusão e marginalização e a importância de ter uma travesti negra em Brasília. Pois o direito de ser reconhecido é negado pela cisheteronormatividade e conservadorismo. Assim, o discurso político analisado refere-se a construção de um projeto de sociedade democrática que sugere a importância da diversidade trans nos espaços deliberativos.

Compreende-se a partir das falas de Erika Hilton e do contexto político conservador que a problemática da transfobia se coloca como algo urgente a ser debatido e combatido, com um longo caminho a se percorrer frente a complexidade desse problema social. Entretanto, o trans ativismo torna-se uma ferramenta de disputa para os grupos marginalizados no campo da política plena, a fim de garantir uma maior diversidade na deliberação dos assuntos políticos no país, ao passo que isso impacta o reconhecimento dessa população e a diminuição das diferenças.

BUTLER, J. Os atos performativos e a constituição do gênero: um ensaio sobre fenomenologia e teoria feminista. Caderno de Leituras, n.78, São Paulo: Edições Chão da Feira, jun. 2018. FOUCALT, M. História da Sexualidade I: A vontade de saber. 13.ed. Rio de Janeiro: Edições Graal Ltda, 1988. 125 p. SILVA, K. Disputas ideológicas e pânico moral: uma análise dos ataques às políticas de cidadania da população trans no cenário político nacional. In: Seminário Internacional Fazendo Gênero, 12., 2021, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: UFSC, 2021, p.1-11.