Resumo

A economia criativa tem como núcleo a criatividade, desenvolvida principalmente por projetos culturais e criativos nas indústrias criativas (DeFillippi, 2015). O crescimento econômico e a sustentabilidade dessa economia dependem de projetos que geram produtos, serviços e performances criativas (Jonnes, 2015). Projetos bem-sucedidos produzem produtos criativos com valores simbólicos e econômicos, integrando aspectos tangíveis e intangíveis da cultura (Pratt, 2015). O desenvolvimento socioeconômico e cultural de sociedades decorre de uma gestão que envolva diferentes atores no processo criativo.

As pesquisas não abordaram as ações e esforços coletivos que expressam a criatividade plural na gestão de projetos culturais. Poucas pesquisas focaram nas ações dos gestores, e a criatividade plural foi superficialmente abordada (Simon, 2006). Assim, a criatividade plural em gestão de projetos culturais não é investigada pela literatura existente. Nossa pesquisa é motivada pela questão: como a criatividade plural constitui uma prática criativa estratégica na gestão de projetos culturais? O objetivo é explicar como a criatividade plural constitui essa prática na gestão de projetos culturais.

A pesquisa baseia-se na revisão do campo de gestão de projetos culturais, criatividade em projetos culturais e criatividade plural na perspectiva prática. Esta perspectiva forneceu a base para compreender a criatividade plural na gestão e em projetos culturais. Entendemos a criatividade plural em projetos culturais como uma prática formada por ações coletivas, interação e colaboração entre pessoas e elementos materiais e simbólicos que organizam e sustentam atividades (Gherardi, 2019), dedicadas à criação de novos produtos e resultados criativos (Pérola & Davel, 2022).

Para responder à questão de como a criatividade plural constitui uma prática criativa estratégica na gestão de projetos culturais? realizamos uma etnografia multissituada e digital. Seguindo as diretrizes da etnografia multissituada proposta por Marcus (1995), e os princípios do método da etnografia digital conforme descritos por Pink et al., (2016) que permitiram a inclusão e interação em espaços de criação tanto online quanto offline. A análise de narrativas dialógicas foi baseada nas fontes de informações em documentos, observações e entrevistas etnográficas.

Nossas análises identificaram três processos principais na gestão de projetos culturais, orientados por práticas criativas plurais: criação, promoção e consolidação. As práticas criativas são sustentadas por uma dinâmica chamada relacionalidade criativa, que é a capacidade do coletivo de criar, manter e reproduzir relações no trabalho coletivo em projetos. A relacionalidade criativa possui três constituintes: uma brincadeira movida pelo afeto, um impulso criativo motivado pela crítica e uma inspiração impulsionada por restrições.

Nossos resultados apresentam uma nova perspectiva da prática criativa plural na gestão de projetos culturais, gerando desafios para futuras pesquisas. O primeiro desafio é teórico: distinguir as bases conceituais da criatividade e da prática para desenvolver uma teoria consistente, com referência a estudos como os de Hällgren & Söderholm (2011) e Blomquist et al. (2010). O segundo desafio é metodológico: recomenda-se o uso de abordagens qualitativas (Gherardi, 2019) para explorar e interpretar a criatividade plural em diferentes contextos. Promovemos compreensões que podem direcionar novas pes

Blomquist, T., Hällgren, M., Nilsson, A., & Söderholm, A. (2010). Project‐as‐practice: In search of project management research that matters. Project management journal, 41(1), 5-16. DeFillippi, R. (2015). Managing project-based organization in creative industries. The Oxford handbook of creative industries, 268. Gherardi, S. (2019). How to conduct a practice-based study: Problems and methods (second edition). Cham: Edward Elgar Publishing. Simon, L. (2006). Managing creative projects: An empirical synthesis of activities. International Journal of Project Management, 24(2), 116–126.