Resumo

A pandemia mundial provocada pela Covid-19 e suas variantes exigiu que as organizações adotassem políticas de teletrabalho compulsório, alterando as condições de trabalho, forçando simultaneamente a implementação de estratégias e adaptações organizacionais, além de respostas e soluções para atender às necessidades dos trabalhadores, o que tem demandado cada vez mais pesquisas no contexto do trabalho remoto.

Este estudo pretende responder a seguinte problemática: quais são as percepções de servidores públicos em teletrabalho com relação à liderança, às práticas de GP e à QVTe? Por conseguinte, o objetivo deste estudo é identificar as percepções com relação à liderança, às práticas de GP e à QVTe em uma amostra de servidores públicos, assim como a associação entre elas, uma vez que conhecer tais percepções podem ser úteis para melhorar a atuação da liderança, da implementação das práticas de GP e da QVTe dos servidores públicos pesquisados.

Liderança é compreendida como uma relação de poder que, por meio da persuasão e influência do líder, atua como mecanismo de interação entre os membros de uma equipe, favorecendo o alcance das metas coletivas (Bass, 1990). Além disso, este estudo adota a Visão Baseada em Recursos (Barney, 1991) alinhada a Gestão Estratégica de Pessoas (GEP). Outrossim, qualidade de vida no teletrabalho (QVTe) refere-se à interseção de QVT e teletrabalho, e, visa promover o bem-estar, a saúde física e mental, a satisfação, a realização profissional e pessoal dos teletrabalhadores (Pereira et al., 2021).

De natureza quantitativa, com fins descritivos e recorte temporal transversal, a presente pesquisa adotou o método de levantamento (survey). A população do estudo foram servidores técnicos administrativos em educação (TAEs) de uma Instituição da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT), que tivessem experiência mínima de 01 mês em teletrabalho. Utilizou-se a aplicação de questionário online contendo três escalas de mensuração e dados sociodemográficos. Para a análise dos dados considerou-se a estatística descritiva e análise de correlações de Pearson.

Considerando os resultados alcançados, pode-se afirmar que as variáveis liderança, práticas de GP e QVTe foram, de maneira geral, percebidas pela amostra de servidores públicos deste estudo, bem como a associação entre elas. Teletrabalhadores precisam de líderes que estejam atentos aos fatores contextuais e dispostos a customizarem estratégias organizacionais alinhadas à elaboração e implementação das práticas de GP, promovendo e garantindo a QVTe. Por conseguinte, as variáveis liderança e práticas de GP estão associadas e possuem correlação significativas e positivas com QVTe.

As percepções dos servidores teletrabalhadores indicaram a efetividade da atuação da liderança, a urgência em (re)visitar e (re)desenhar as práticas de GP, e a necessidade de analisar pontos críticos identificados na QVTe dos teletrabalhadores. Nesta perspectiva, o curto-circuito que começa com falhas na atuação da liderança e/ou execução das práticas de GP, pode impactar a QVTe, produzindo efeitos na dinâmica do trabalho, por exemplo, com teletrabalhadores desinformados, adoecidos, sobrecarregados, desmotivados e intencionados a buscar outros ambientes laborais.

Barney, J. (1991). Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, 17(1), 99–120. Bass, B. M. (1990). Bass and stogdill’s handbook of leadership: theory, research, and managerial applications (3rd ed.). New York: Free Press. Pereira, L. J., Oliveira, A. C., Silva, L. P., & Mendonça, C. M. C. (2021). Teletrabalho e qualidade de vida: Estudo de caso do poder judiciário em um Estado do Norte do Brasil. Revista Gestão e Desenvolvimento, 18, 222–245.