Resumo

A criatividade é uma necessidade humana universal, presente em todas as culturas e contextos. No campo da gestão, a criatividade tem sido recentemente valorizada, seja como instrumento de produtividade ou como característica imanente aos processos de gestão. Este artigo examina a interseção entre criação teatral e gestão, analisando a montagem e circulação de um espetáculo. Exploramos como os processos criativos e gerenciais se entrelaçam, destacando tensões e composições emergentes.

Este estudo objetiva investigar a relação dos saberes em gestão com os processos criativos em teatro, a partir dos procedimentos e práticas cênicas desenvolvidas na criação de um espetáculo.

O artigo revisita a relação entre criatividade e gestão, um tema destacado nos estudos de administração que visava instrumentalizar a criatividade para produtividade e inovação econômica, evoluindo para uma abordagem crítica que a integra aos processos de gestão (Dourado; Davel, 2022). Dialogando com teorias clássicas sobre gestão (Faria, 1985) e os impactos da racionalidade burocrática (Weber, 1982; Tragtenberg, 2006), analisa, também como experiências culturais lidaram com demandas de gestão (Marina, 2023; Souza & Carrieri, 2011), explorando tensões e oportunidades dessa interseção.

A montagem do espetáculo foi marcada por variações na tomada de decisão e na gestão com riscos, tensões e aprendizados. Em práticas gerenciais hegemônicas, os conflitos são resolvidos de forma impositiva. Em contraste, as abordagens alternativas, como as experimentadas no espetáculo, enfatizam o cuidado com o outro, a produção de consenso e a coexistência de subjetividades, exigindo uma reconfiguração das relações. Este estudo sublinha a complexidade da divisão de funções no teatro e a influência da burocracia na criação teatral, promovendo um diálogo sobre a relação entre criação a gestão.

O estudo analisa a montagem de um espetáculo teatral e destaca a relação entre criação e gestão. A gestão pode facilitar os processos criativos, mas também gerar conflitos e desvios dos objetivos de criação. Práticas alternativas priorizam o cuidado mútuo e a acomodação das vontades diversas. O papel do gestor no campo artístico se torna mais adequado quando mobiliza elementos subjetivos, enriquecendo os fazeres de artista e gestor. A gestão crítica e reflexiva pode contribuir com a criação artística e se contaminar por ela, inspirando novas formas de organização.

Durado, P., & Davel, E. (2022). Criatividade como prática: perspectivas e desafios para a pesquisa em administração. Revista de Administração de Empresas - RAE, 62(3), 1-20. Faria, J. H. (1985). Relações de poder e formas de gestão. Curitiba: Criar Edições. Marina, H. (2023). Atuar-produzir: desafios de artistas da cena frente a gestão de suas trajetórias. Belo Horizonte, MG: Editora Javali; Campinas, SP: Sim! Edições. Souza, M. M., & Carrieri, A. (2011). Racionalidades no fazer artístico: estudando a perspectiva de um grupo de teatro. RAE - Revista de Administração de Empresas, 51(4), 382-395