1 - ANA LUISA MARTINS ALVES UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) - Campus Santa Mônica
2 - CINTIA RODRIGUES DE OLIVEIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) - FAGEN
Reumo
No Brasil, mais de 1.000 pessoas foram resgatadas em 2023 em condições de trabalho análogo à escravidão (Walk Free Foundation, 2023). A indústria têxtil, especialmente as fast-fashion, é um setor crítico, beneficiando-se de práticas abusivas devido à produção acelerada e custos baixos. Marcas como Zara, Renner, C&A e Riachuelo foram denunciadas por usar trabalho escravizado e manter condições precárias, refletindo um modelo que prioriza o consumo rápido e o descarte (Mendes, 2021).
A pergunta que se estabelece para guiar esta pesquisa é: como as empresas da indústria fast fashion lidam com as denúncias de trabalho escravizado? Para responder a tal questão, o objetivo deste estudo é analisar as respostas estratégicas da Zara, empresa do setor de fast fashion, às denúncias de utilização do trabalho escravizado.
O consumismo na sociedade contemporânea substituiu o trabalho como elemento central de identidade, transformando indivíduos em mercadorias e promovendo ostentação através da aquisição de bens caros (Bauman, 2008). A comunicação excessiva e estratégias de marketing agressivas intensificam o desejo de consumir novos lançamentos, associando produtos a status social (Campbell, 2001). A indústria da moda, especialmente o fast fashion, exacerba esse ciclo com produção rápida e preços baixos, muitas vezes usando mão de obra escravizada devido à terceirização e baixos salários (Nguyen et al., 2022).
Esta pesquisa visa analisar as respostas da Zara às denúncias de trabalho escravizado. Utiliza abordagem qualitativa e pesquisa documental, focando no caso emblemático da Zara. A coleta de dados abrange denúncias de 2010 a 2024 publicadas pelo Repórter Brasil e inclui o relatório da CPI do Trabalho Escravo de 2014. A análise segue três etapas: pré-análise, exploração do material e interpretação dos resultados. Foram selecionadas 15 reportagens e relatórios relevantes, com foco nas respostas da Zara às alegações de trabalho escravizado, organizadas em categorias temáticas para interpretação.
As denúncias destacam o uso de trabalho escravizado e infantil nas oficinas da empresa, com condições precárias e terceirização para evitar responsabilidades. A Zara, ao ser confrontada, negou envolvimento direto e alegou desconhecimento, responsabilizando terceirizadas. Em resposta às acusações e ao TAC, a empresa adotou estratégias de negação, minimizando sua responsabilidade e focando em medidas internas para proteger sua imagem, enquanto desrespeitou compromissos e tentou evitar sanções legais.
Identificou-se que a Zara adota estratégias de negação e atribuição de responsabilidade, minimizando as acusações e alegando desconhecimento, mesmo com evidências substanciais. A empresa frequentemente transfere a culpa para fornecedores terceirizados, utilizando auditorias superficiais e acordos reativos sem mudanças significativas. Este posicionamento reflete uma desconexão entre suas políticas de responsabilidade social e práticas reais, perpetuando abusos enquanto prioriza a proteção de sua imagem.
Batista, M. C. R. (2012). Trabalho escravo contemporâneo: Questões teóricas e empíricas. Lumen Juris.
Bauman, Z. (2008). Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria.
Campbell, C. (2001). A ética romântica e o espírito do consumismo moderno.
Mendes, F. D. (2021). O modelo fast fashion de produção de vestuário causa danos ambientais e trabalho escravo. Jornal da USP.
Nguyen, H. T. T., et al. (2022). Fast Fashion: Challenges and Sustainability Issues. Journal of Fashion Marketing and Management, 26(2), 218-232.
Walk Free Foundation. (2023). Global slavery index 2023.