1 - Lara Luíza Silva Ferreira UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) - Campus Santa Mônica
2 - André Francisco Alcântara Fagundes UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) - Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm)
Reumo
Os estudos sobre o corpo foram marcados por uma perspectiva de objetificação: corpo máquina, corpo-rascunho, corpo-consumidor, corpo-aparência e corpo-mercadoria. Na contramão desta lógica, estudos que consideram o corpo em uma perspectiva social e incorporada foram elucidados, como a do corpo-pessoa/embodiment. A sociedade capitalista foi erigida e sustentada na lógica da objetificação do corpo dos indivíduos, sob o binômio produção e consumo. Às mulheres, esta objetificação se mostra ainda mais perversa, disciplinando-as à um padrão estético e de beleza específico para serem “empregáveis”.
A questão de pesquisa deste artigo é: como tem ocorrido a objetificação do corpo nos espaços organizacionais para atender a lógica da empregabilidade e do consumo, especificamente quanto a exigências de padrões de beleza? O objetivo deste artigo é: compreender a objetificação do corpo nos espaços organizacionais para atender a lógica da empregabilidade e do consumo, especificamente quanto a exigências de padrões de beleza.
A compreensão do corpo transcende a herança biológica, abrangendo aspectos históricos e sociais. A industrialização e suas práticas reforçaram o controle sobre o corpo, tratado como "corpo-máquina" (Foucault, 2009). O capitalismo fomenta o "corpo-rascunho", em busca de um ideal inatingível (Le Breton, 2003). A sociedade do consumo valoriza a estética, transformando o corpo em mercadoria (Baudrillard, 1995). A pressão estética sobre as mulheres perpetua hierarquias e opressões, mas também abre espaço para resistência através do corpo-pessoa (Flores-Pereira, 2010).
A pesquisa é qualitativa, documental, baseada em reportagens de primeira mão sobre empresas de diversos setores. A busca foi realizada no Google Notícias, em março de 2024 e cobriu o período de 2011 a 2024, encontrando 59 reportagens. Após pré-análise, 15 reportagens foram selecionadas, transcritas e analisadas, totalizando 25 páginas. As categorias analíticas emergiram e foram identificadas a partir da revisão da literatura e do objetivo proposto. A partir da exploração do material, procedeu-se com o tratamento e interpretação dos dados por meio da Análise Categorial (Bardin, 2016).
As análises revelam como as empresas exigem padrões de beleza de funcionárias, objetificando seus corpos como engrenagens do sistema capitalista. Indicam que mulheres devem seguir padrões rígidos de aparência para serem empregáveis, sendo frequentemente penalizadas por não atenderem esses critérios. A normatização estética é uma forma de controle e dominação, gerando sofrimento e resistência. As denúncias na justiça refletem uma tentativa de subversão contra a opressão, mas medidas adicionais são necessárias para combater a discriminação contínua no ambiente corporativo.
Por meio das abordagens do corpo-máquina, corpo-rascunho, corpo-mercadoria e corpo-pessoa/embodiment, bem como dos estudos sobre a sociedade do consumo, o estudo revelou diversas práticas empresariais de objetificação do corpo das mulheres em busca do consumo para um padrão estético imposto socialmente. As resistências têm ocorrido, principalmente, por meio de denúncias e processos judiciais. Estas medidas não podem ser as únicas para coibir práticas discriminatórias nos ambientes organizacionais, mas tê-las, permite, pelo menos legalmente, um tratamento mais justo e igualitário.
Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.
Baudrillard, J. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995.
Flores-Pereira, M. T. Corpo, Pessoa e Organizações. O & S, Salvador, v.17, n.54, p.417-438, 2010.
Foucault, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 2009.
Le Breton, D. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade. Campinas, SP: Papirus, 2003.