Resumo

As mudanças organizacionais por meio de fusões e aquisições em segmentos dinâmicos, como o de tecnologia, podem ser consideradas um dos desafios mais difíceis que os funcionários podem enfrentar em suas carreiras (Chung; Du; Choi, 2014). Os líderes desempenham um papel central na mudança, como agentes de mudança e modelos aos participantes do processo (Stouten; Rosseau; De Cremer, 2018). As interações entre os líderes e participantes podem contribuir de maneira positiva ou negativa para a dinâmica da confiança organizacional, dependendo das percepções dos envolvidos (Reynolds; Lander, 2023).

Este estudo teve como objetivo compreender a influência da liderança em processos de mudança organizacional em contextos de fusões e aquisições em uma empresa do segmento de tecnologia, que na última década adquiriu cerca de vinte empresas, entre startups e empresas de médio porte. De maneira mais específica, procurou entender as percepções dos líderes sobre sua influência em processos de mudança e seus principais desafios, explorando também como os líderes lidam com a dinâmica da confiança dos funcionários em contextos de fusões e aquisições.

Em um contexto de mudança, onde normalmente “o passado pode parecer um lugar de segurança e proteção e o futuro um lugar de incerteza e confusão” (Bansal, 2016), é natural que ocorram situações de resistência. Battilana e Casciaro (2013) comentam sobre a importância do papel dos líderes, na superação de eventuais situações de resistência à mudança. Empresas do setor de tecnologia, de maneira geral, costumam usar fusões e aquisições como uma estratégia para adquirir diversas bases de conhecimento externas e capacidades para a criação de conhecimento (Lee; Lee, 2021).

Os dados foram coletados por meio de cinco entrevistas semiestruturadas com gestores de uma grande empresa de tecnologia, que vivenciam no dia a dia as dificuldades e desafios da gestão da mudança em um contexto de fusões e aquisições. O roteiro de entrevistas foi elaborado de acordo com os objetivos e construtos principais do trabalho, com base no referencial teórico identificado. A análise dos dados foi realizada de acordo com as recomendações de Flores (1994) para a codificação e categorização, resultando na formação de 9 categorias agrupadas em 3 metacategorias.

Metacategoria 1 - O papel da liderança: são apresentados os aspectos relacionados aos papéis desempenhados pelos líderes, nas categorias liderança estratégica, liderança facilitadora e liderança inspiradora. Metacategoria 2 - Desafios da liderança: são consideradas as categorias relacionadas à gestão da resistência à mudança, gestão de expectativas e gestão de talentos. Metacategoria 3 - Institucionalização da mudança: inclui as categorias práticas organizacionais, confiança e criação de sentido ou interpretação da mudança (sensemaking).

Os resultados confirmam a importância da liderança estratégica, inspiradora e facilitadora por parte dos líderes, bem como o equilíbrio na gestão dos desafios inerentes ao processo, como a gestão da resistência à mudança, gestão de expectativas e gestão de talentos, além da atenção necessária às práticas de institucionalização da mudança. As conclusões também indicam oportunidades, como maior envolvimento dos funcionários (participantes), como coautores ativos do processo de mudança e não apenas como “expectadores”, liderados pelos agentes de mudança.

KLOK, Y.; KROON, D.; KHAPOVA, S. The role of emotions during mergers and acquisitions: A review of the past and a glimpse into the future. International Journal of Management Reviews, v. 25, n. 3, p. 587–613, 2023. KOTTER, John P. Leading change: Why transformation efforts fail. Harvard Business Review, p. 1-9, 1995. LEE, Jeonghwan; LEE, Jinju. Enablers of post-acquisition joint knowledge creation: evidence from joint patenting in high-tech mergers and acquisitions. Journal of Knowledge Management, v. 26, n. 3, p. 743-762, 2022.