Resumo

O uso da Análise do Discurso Crítica tem evoluído nos estudos organizacionais brasileiros, destacando-se tanto como ferramenta analítica e metodológica, quanto como quadro teórico. Essa evolução segue a tendência internacional (Alvesson & Kärreman, 2000; Iedema, 2007) e, desde os anos noventa, o Brasil tem incorporado vertentes distintas para aplicação. Entre essas destaca-se a corrente do linguista Norman Fairclough, centrada nas discussões sobre a linguagem e os aspectos político-sociológicos que constituem e são constituídos pelos sujeitos na prática social.

Uma variedade de estudos organizacionais utiliza-se da Análise de Discurso Crítica (ADC) como recurso teórico-metodológico. Embora a propriedade onto-epistemológica, verifica-se uma fragilidade em relação ao processo de análise adotado. Assim, este artigo questiona: que sistemática pode ser utilizada para a realização de uma ADC a partir dos pressupostos teórico-metodológicos do Norman Fairclough? O objetivo volta-se para apresentar um percurso de análise para os estudos organizacionais que contemplam a ADC, partindo das contribuições e pressupostos teórico-metodológico de Norman Fairclough.

A base teórica que sustenta as discussões se ancora na inter/transdisciplinaridade dos estudos de Fairclough (2001a, 2003, 2005) e Chouliaraki e Fairclough (1999), apoiado, no campo da linguística, por Magalhães (2000, 2005, 2017), Ramalho e Resende (2011), Vieira e Resende (2016) e promovida, nos estudos organizacionais, por autores como Alvesson e Kärreman (2000), Curtis (2014), Onuma (2020), Salles e Dellagnelo (2019), Silva e Gonçalves (2017) e outros. Estudos que, longitudinalmente, contribuem para a consolidação da ADC nos estudos brasileiros em suas aplicações teóricas e empíricas.

Pesquisas que se interessam pela ADC tendem a utilizar diferentes métodos de coleta e geração de dados (notas de observações, entrevistas, diários de campo, documentos). Essa variedade de recursos avoluma centenas de páginas, que dificulta a análise integral dos textos. Tal fato requer uma sistemática que possibilite o tratamento profundo dos dados. Uma proposta viável de análise parte da organização do material, leitura flutuante dos textos, leitura orientada aos objetivos, construção do corpus de análise, identificação/codificação de categorias e descrição dos significados do discurso.

A utilização da ADC como recurso de análise em estudos organizacionais deve valorizar o seu potencial teórico-metodológico, sustentando um debate ontológico e epistemológico. Para além dos elementos estruturais dos textos (gramaticais, lexicais e retóricos) a pesquisa em ADC deve se ocupar dos aspectos que perfazem a estrutura social na qual os discursos estão inseridos e são reproduzidos. Apesar da riqueza das discussões da ADC como teoria sua adoção como recurso metodológico ainda tem apresentado arestas que precisam ser lapidas.

Alvesson, M., & Kärreman, D. (2000). Varieties of discourse: On the study of organizations through discourse analysis. Human Relations, 53(9), 1125-1149. Chouliaraki, L., & Fairclough, N. (1999). Discourse in late modernity: rethinking Critical Discourse Analisy. Edinburgh University Press. Fairclough, N. (2003). Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge. Fairclough, N. (2005). Peripheral Vision: Discourse Analysis in Organization Studies: The Case for Critical Realism. Organization Studies, 26(6), 915-939.