Resumo

O trabalhador chega ao ambiente de trabalho com uma história, desejos, motivações e aspirações psicológicas, portanto, cada qual tem suas particularidades que são únicas (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994). Para Dejours (2020) quando à pressão por produtividade é somada à precarização do trabalho, a sublimação fica prejudicada em razão da perda de sentido do trabalho. Como no caso de motoristas que atuam em empresas-aplicativo. Estas empresas impõem padrão de desempenho aos motoristas, que são avaliados e submetidos a ações disciplinares, chegando à exclusão do sistema (FRIEDMAN, 2014).

Como problema de pesquisa buscou responder a seguinte questão: Qual a percepção dos motoristas por aplicativos em relação às vivências de prazer e sofrimento no trabalho? O objetivo geral deste estudo consistiu em analisar e descrever as vivências de prazer e sofrimento no trabalho de motoristas por aplicativos com atuação na região metropolitana da cidade de Belo Horizonte/MG, tendo como referência a Psicodinâmica do Trabalho.

O resultado do trabalho vai além do que é produzido, deixando marcas que afetam quem o executa. As formas como o sujeito o absorve pode levar ao sofrimento patogênico, tendo como consequências o adoecimento do corpo e da mente (DEJOURS, 2012). Por meio da Psicodinâmica do Trabalho é possível investiga o sofrimento que é vivenciado no ambiente organizacional e considerando a forma que o trabalho é organizado, pode atingir o funcionamento psicológico do trabalhador comprometendo a sua saúde física e mental, como também, analisa o prazer proporcionado pela sua realização (DEJOUR, 2017).

O estudo caracterizou-se como descritivo de abordagem qualitativa por meio da análise temática. A unidade de análise foram as vivencias de prazer e sofrimento dos sujeitos analisados, composto por 129 motoristas por aplicativo que fazem parte de um grupo que se comunicam via aplicativo WhatsApp. A coleta de dados foi documental e as categorias de análise foram previamente definidas e analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2011), que se deu com o auxílio do Software Maxqda Anaytics Pro 2020.

Estudo com base na Psicodinâmica do Trabalho, envolvendo 129 motoristas com atuação em empresas aplicativos na região metropolitana da capital do estado de Minas Gerais. Os principais resultados estão relacionados à falta de transparências das empresas envolvendo a avaliação dos motoristas e punições, clareza em relação a operacionalização de trajetos em áreas consideradas dinâmicas (maior concentração de passageiros), insegurança em função de riscos de assaltos e a insegurança por falta de uma relação formal de trabalho. Evidenciou também sinais de adoecimento mental dos motoristas.

Em relação as vivências de sofrimento destacam-se a falta de transparência das empresas em relação às avaliações de desempenho, operacionalização obscura das áreas apontadas como dinâmicas, insegurança por falta de uma relação formal do trabalho e a presença constante do medo devido à violência inerente ao trabalho que estão submetidos os motoristas. As vivencias de prazer no trabalho são restritas e se limitam a satisfação de ter um trabalho, que apesar de precário, gera renda, contribuindo para a sobrevivência própria e dos familiares, considerando altos índices desemprego no Brasil.

DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho e teoria da sedução. Psicologia em Estudo, v. 17, n. 3, 2012. DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho: casos clínicos. Porto Alegre – São Paulo: Dublinense, 2017. GERNET, Isabelle. Work, Suffering and Defences: From the Group to the Collective. Revue de psychothérapie psychanalytique de groupe, v.1, n.1, 2017. MORAES, Rodrigo Bombonati Souza; OLIVEIRA, Marco Antônio Gonsales; ACCORSI, André. Uberização do trabalho: a percepção dos motoristas de transporte particular por aplicativo. Revista Br. de Est. Organizacionais, v.6, n.3, 2019.