Resumo

Definir o perfil de um cargo é condição sine qua non à determinação das qualificações necessárias do seu ocupante, bem como das competências que são necessárias à sua efetividade. A profissiografia e o mapeamento de competências são extremamente úteis ao estudo cientifico do cargo, especialmente no contexto de organizações de segurança pública. Este artigo tem como objetivo geral descrever as etapas de aplicação destas duas ferramentas de gestão, relatando o caso da Guarda Civil Municipal brasileira, refletindo sobre suas vantagens e possíveis contribuições à profissionalização da gestão.

A Guarda Civil Municipal brasileira tem inserção nacional, com grande capilaridade, pois atua em diferentes regiões do País. Em agosto de 2014 foi publicada a Lei Federal n.13.022 de 2014, apresentando o Estatuto Geral das Guardas. Este Estatuto determinou atribuições, elementos da carreira e de organização das Guardas Municipais em território nacional. A questão é que cabe ao poder executivo municipal definir as atribuições de sua guarda. Assim, diversas são as atribuições dos guardas, gerando-se um grande ‘caleidoscópio’, fragmentando a identidade profissional e dificultando sua gestão.

A ação de cada guarda é altamente dependente de fatores regionais ou municipais. Desconhecendo-se a realidade de cada guarda, torna-se mais difícil empreender ações de governança orientadas à promoção do desempenho e alcance dos resultados das mesmas. É preciso, então, conhecer qual é a realidade de trabalho das guardas pelo Brasil, aplicando-se, para isso, as metodologias presentemente relatadas. É preciso, então, que se lance mão de instrumentos científicos para otimizar a atividade de gestão, compreendendo as especificidades deste cargo e todos os aspectos relacionados ao seu desempenho.

Foram realizados, presencialmente, 5 (cinco) grupos focais, cada um contando com 10 guardas de cada região geográfica do Brasil. Aplicaram-se as duas técnicas em cada grupo. Cada grupo teve a duração de 5 dias. Foram realizadas, ainda, 5 (cinco) visitas in loco na capital de uma Unidade Federativa de cada uma das regiões brasileiras, a fim de identificar, por meio de pesquisa-ação e observação participante, os desafios, dilemas e atribuições/tarefas cotidianas das guardas. Todo o material coletado foi analisado pela equipe de pesquisa (validação de especialistas/juízes e semântica).

Foram identificadas 28 tarefas do cargo de guarda. Destas, 11 são administrativas e 17 operacionais/especializadas. Ainda, foram mapeadas 115 competências, entre técnicas e comportamentais, além de 61 requisitos psicológicos necessários para o bom desempenho do cargo. Mapeou-se, também, 18 requisitos psicológicos restritivos ao desempenho. Por fim, foram identificadas 51 condições de trabalho tidas como facilitadoras, e 57 condições de trabalho consideradas como dificultadoras. A profissiografia e o mapeamento demonstraram-se muito úteis ao levantamento de informações sistemáticas do cargo.

As metodologias aqui relatadas têm reconhecimento, legitimidade e são válidas a que contribuam para a melhoria dos processos de gestão (práticas organizacionais de avaliação de desempenho ou identificação de lacunas para ações de capacitação, por exemplo). Aperfeiçoando-se a gestão de organizações de segurança pública, tem-se possibilidades de se prover serviços de melhor qualidade à sociedade como um todo, aumentando, inclusive, a sensação de segurança. Os resultados também são tidos como importantes ferramentas para a revisão da matriz curricular na formação das guardas civis brasileiras.