Resumo

Os estudos sobre comportamento do consumidor referenciam os consolidados modelos de processo decisório (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2011; KOTLER e KELLER, 2012; SHETH, MITTAL e NEWMAN, 2001) mas pouco se estuda a etapa de descarte (SUAREZ et al, 2011; WENG, et al., 2016; CRUZ-CÁRDENAS e ARÉVALO-CHÁVEZ; 2018). Dentre essas pesquisas, há abordagens distintas, como o descarte de bens utilitários (ROZZETT; ALFINITO; ASSUMPÇÃO, 2013) e de valor emocional (FONSECA, 2018). Nota-se um gap quanto ao estudo do descarte de bens a partir das alternativas de descarte e do processo decisório do consumidor.

Nesse sentido, o presente estudo busca responder à questão: como se dá o processo decisório do consumidor para o descarte de bens? O objetivo geral dessa pesquisa é descrever o processo decisório do consumidor para o descarte de bens.

O referencial teórico está baseado na análise dos modelos de processo decisório do consumidor (com foco no modelo de Engel, Blackwell e Miniard, 2011), na taxonomia das alternativas de descarte (Jacoby, Berning e Dietvorst, 1977) e no exame dos fatores influenciadores do comportamento de descarte: fatores ambientais, características individuais do consumidor e atributos dos bens (Weng et al, 2016; Albinsson e Perera, 2009; Trudel, Argo e Meng, 2016; Cruz-Cárdenas, Gadalupe-Lanas e Velin-Farez, 2019).

Parte-se de um projeto de pesquisa e extensão denominado “Projeto X”, no qual adapta-se um freezer expositor vertical, transformando-o num instrumento de trocas e doações de objetos novos ou usados em bom estado de conservação (ITX). A pesquisa foi estruturada em 2 etapas: na primeira foram entrevistados estudantes universitários considerando a priori as alternativas propostas por Jacoby, Berning e Dietvorst (1977). Na segunda, entrevistou-se usuários dos ITXs com foco nos comportamentos de doação e troca. Os dados foram alvo de análise de conteúdo.

Como principais resultados destaca-se a proposição de um modelo decisório do consumidor para o descarte de bens, observando as razões e alternativas para o descarte, a influência de fatores ambientais, das características individuais do consumidor e dos atributos dos bens. Destaca-se ainda nesse processo decisório a etapa de atribuição de valor residual ao bem a ser descartado, bem como a avaliação das alternativas de descarte e os sentimentos e implicações da tomada de decisão. O modelo propõe um ultima etapa de avaliação pós-descarte que influenciará decisões futuras do consumidor.

A decisão de descarte é complexa, sobretudo em relação aos bens como maior valor percebido. Está sujeita a fatores influenciadores e resulta em implicações para o consumidor dado seu arrependimento ou satisfação com a decisão tomada. Futuras pesquisas podem testar com técnicas quantitativas o modelo proposto, verificando a sua adequação e aprimorando a compreensão de cada etapa. Também podem aprofundar a análise do conceito de atribuição de valor residual ao bem descartado e averiguar o surgimento de novas alternativas de descarte, além de focar no descarte exercido pelo consumidor consciente.

ALBINSSON, P. A.; PERERA, B. Y. From trash to treasure and beyond: the meaning of voluntary disposition. Journal of Consumer Behaviour, v. 8, n. 6, p. 340-353, 2009. CRUZ-CÁRDENAS, J.; ARÉVALO-CHAVES, P. Consumer behavior in the disposal of products: Forty years of research. Journal of Promotion Management, v. 24(5), p. 617-636, 2018. ENGEL, J.; BLACKWELL, R. D.; MINIARD, P. W. Comportamento do consumidor. 9ª ed. Rio de Janeiro: Editora Cengage Learning, 2011. JACOBY, J; BERNING, C. K; DIETVORST, T. F. What about disposition? Journal of Marketing, v. 41, n. 2, p. 22-28, abr, 1977.