Resumo

O estudo das relações entre indivíduos e organização tem sido explorado sob diferentes abordagens, sendo os vínculos uma delas. Por trás de um vínculo, elementos culturais são pesquisados considerando-se a influência que podem causar não apenas para o comprometimento como também para o entrincheiramento e consentimento. Nas organizações militares elementos como hierarquia e disciplina são estruturantes da cultura.Dentro desses,o Espírito de Corpo aparece como um aliado na formação dos vínculos, trazendo sentimentos de identidade e força em momentos críticos, presentes da natureza da profissão.

O recorte do Espírito de Corpo se deu por ter sido pouco explorado na literatura. Apesar de ser um termo comum no cotidiano militar, pouco se sabe sobre seus efeitos nos indivíduos e organizações. Esse trabalho visa analisar esse fenômeno, buscando compreender sua influência nos vínculos não somente para o trabalho do policial militar, como para a organização, refletindo na melhoria da segurança pública para a sociedade, e no bem-estar do policial. Diante disso surge a questão: De que forma o Espírito de Corpo influencia na formação dos vínculos entre os policiais militares e a corporação?

O conceito de cultura é complexo, sendo considerada um conjunto de artefatos e elementos criados ou adaptados pelas pessoas e difundida no tempo-espaço, mantendo-se em constante evolução. Agrupamentos humanos apresentam aspectos culturais, ainda que distintos, mas compostos por elementos similares, (HOFSTEDE E MINKOV, 2010). Vínculos caracterizam uma ligação representada por contratos psicológicos entre sujeito e organização para o qual trabalha. Alguns fenômenos estão relacionados aos vínculos, são eles: consentimento, comprometimento e o entrincheiramento organizacional (BASTOS et al., 2018)

A pesquisa buscou analisar, a partir da percepção dos sujeitos, como o Espírito de Corpo influencia na formação e no desenvolvimento dos vínculos organizacionais na Polícia Militar de Santa Catarina. Para isso foram utilizados métodos e técnicas ligados a abordagem de pesquisa qualitativa. A pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso no qual foram usadas entrevistas semi estruturadas com 12 policiais militares de Santa Catarina, no período entre dezembro de 2018 e abril de 2019. Para a análise de dados foi utilizada a técnica de categorização ensinada por Bardin (2016).

Analisando as entrevistas, sempre que mencionado, o Espírito de Corpo foi vinculado a termos como: pertencimento, união, orgulho, companheirismo, confiança e lealdade. Assim sendo, pode-se concluir que esse é um elemento intimamente absorvido pelos sujeitos e que estimula a conexão de cada indivíduo com o grupo, em consequência a isso, faz com que tornem-se mais comprometidos com a organização. Para alguns, nota-se um sentimento de gratidão pelas relações interpessoais que a PM proporcionou,e vê-se que isso fortalece o desejo dos policiais em contribuírem para o desenvolvimento da instituição.

O Espírito de Corpo (EC) fortalece o vínculo de comprometimento a partir do pertencimento, orgulho, identificação, no qual o grupo partilha costumes, ritos, fardas, gritos de guerra, muitas vezes percebendo-se como uma irmandade. O EC fortalece e é fortalecido pelos vínculos, ele passa a fazer parte do que Bourdieu (1986) chama de habitus, que no processo de socialização é estimulado pela corporação como estruturante na formação militar. É importante estudar elementos que fortaleçam os vínculos dos militares para que se reflita em uma corporação mais saudável e uma sociedade mais segura.

BASTOS, A.V.B, et al. Vínculos dos Indivíduos com a Organização: Análise da Produção Científica Brasileira 2000-2010. Psicologia teoria e pesquisa. Brasília, vol. 30 n. 2, pp. 153-162, Abr-Jun 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v30n2/04.pdf. Acesso em: 25 mar, 2018. SMIRCICH, L. Concepts of Culture and Organizational. Analysis Administrative Science Quarterly. Vol. 28, No. 3, pp. 339-358, set. 1993. Organizational Culture - Johnson Graduate School of Management, Cornell University. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/2392246. Acesso: 09, mar. 2018.