Resumo

Considerando que o cliente é uma “peça chave”, as empresas têm buscado cada vez mais, envolvê-lo no processo de desenvolvimento de soluções tecnológicas. A colaboração com clientes aumenta a probabilidade de aceitação da inovação, reduzindo seu risco (Tether, 2002). No que diz respeito ao processo de desenvolvimento de software, a participação dos clientes promove a compreensão do seu domínio, estimula a cognição criativa e aumenta o aprendizado por meio de protótipos, proporcionando uma capacidade aprimorada de design de software (Rose, Jones & Furneaux, 2016).

Mesmo com a adoção recente de práticas de desenvolvimento ágil de software, verifica-se que a cooperação com clientes, para o desenvolvimento de novos produtos ou melhorias de software, ainda é incipiente na “Empresa S”, que atua há 30 anos em três diferentes mercados, sendo um deles a construção civil. Consequentemente, há um subaproveitamento do potencial de inovação obtido em tais parcerias, o que motiva uma análise crítica sobre estas iniciativas. Diante desse contexto esse artigo se propõe a analisar o processo de colaboração com clientes para inovação no desenvolvimento de software, toma

Os fundamentos teóricos do estudo organizam-se em torno de dois temas principais que são desenvolvimento de produtos, com ênfase em desenvolvimento de software e colaboração com clientes. Particularmente sobre o modelo de desenvolvimento ágil de software, o envolvimento dos clientes, o seu feedback sobre lançamentos de produtos e sugestões de melhoria são importantes (Dima & Maassen, 2018). Para Faems et al. (2005) a colaboração com clientes ou Market-based partnerships - MBPs (Gama et al. 2017) é "exploradora", ou seja, está associada positivamente a inovação incremental de produtos.

Trata-se de uma pesquisa aplicada, de abordagem qualitativa, caracterizada como estudo de caso. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas em profundidade com sete Product Managers (PM) e três Product Designers (PD), responsáveis pela gestão e desenvolvimento dos sistemas comercializados pela Empresa S e ainda com três clientes. A análise dos dados foi descritiva e interpretativa, por meio de análise de conteúdo categorial (Bardin, 2009). A análise categorial foi realizada com o apoio do software de análise de dados ATLAS.ti 8.

A análise foi baseada em duas categorias: desenvolvimento de produtos e colaboração com clientes. Identificou-se que a Empresa S dispõe de um processo de desenvolvimento e inovação em produtos de software que contempla as etapas de Discovery e Delivery, os clientes são envolvidos em diferentes momentos de cada uma destas etapas, porém o processo não é estruturado, observando-se a falta de padrão na condução entre os diferentes PMs e PDs. Observou-se que não há formalização e transparência do processo para os clientes, gerando dificuldades na sua condução, além de ser focado em poucos clientes.

Os resultados identificados são aderentes à literatura, no que diz respeito a utilização de metodologias ágeis para aproximação com o cliente no processo de inovação (Beck et al., 2001; Sutherland, 2016; Cooper & Sommer, 2018; Stober & Hansmann, 2010), que permitem feedbacks constantes e a implementação de sugestões de melhoria (Dima & Maassen, 2018) reforçando o papel do cliente como cocriador (Prahalad & Ramaswamy, 2000, 2004; Eslami & Lakemond, 2016). Ainda, os feedbacks fornecidos podem contribuir com decisões estratégicas acerca da solução entregue (Shim & Lee, 2019; Heredia et al., 2014)

Cooper, R.G. and Sommer, A.F. (2018) “Agile–Stage-Gate for Manufacturers: Changing the Way New Products Are Developed Integrating Agile project management methods into a Stage-Gate system offers both opportunities and challenges”, Research- Technology Management, Vol. 61, N. 2, p. 17-26 Shim, W. and Lee, S. (2019) “An agile approach for managing requirements change to improve learning and adaptability”, Journal of Industrial Information Integration, Vol. 14, p. 16-23 Tether, B.S. (2002) “Who cooperates for innovation and why. An empirical analysis”, Research Policy, Vol. 31, N. 6, p. 947-967