Resumo

Ainda que a adoção de indicadores faça parte do processo de profissionalização dos processos e operações das pequenas empresas familiares beneficiando o atingimento de objetivos estabelecidos e auxiliando os gestores nas atividades diárias, existem outros aspectos a serem considerados pelos gestores nas decisões que emergem a partir da base cognitiva e preservam a essência familiar. O impacto da interação entre fatores racionais e socioemocionais na tomada de decisão merece mais evidências, principalmente ao considerar que os estudos anteriores não destinam grande enfoque ao processo decisório

Como os objetivos não-econômicos e afetivos (4C´s) se concretizam no processo decisório através dos aspectos cognitivos e racionais em uma empresa familiar de pequeno porte? Este trabalho possui o objetivo de compreender o modo como as premissas de decisão oriundas da interação entre a família e a empresa se manifestam no processo decisório das pequenas empresas familiares em conjunto com o uso de indicadores de desempenho, verificando se fatores socioemocionais permanecem com maior relevância na tomada de decisão mesmo diante da adoção de práticas formais de mensuração de desempenho.

A empresa familiar é composta pela intersecção das interações entre família e empresa. A partir deste fato, a empresa familiar desenvolve um conjunto específico de capacidades e recursos exclusivos que se manifesta através da essência e identidade da organização e compõe a riqueza socioemocional. O vínculo afetivo faz com que seus gestores considerem em suas decisões quatro fatores essencialmente não financeiros (4C's). A tomada de decisão em processo duplo considera informações de origem racional (contabilidade gerencial) e cognitiva (riqueza sociemocional), abordagens que são complementares.

O trabalho utilizou-se de um estudo de caso exploratório para ser desenvolvido. Quanto ao método de coleta de dados, foram conduzidas entrevistas semiestruturadas que permitiram foco e flexibilidade com os principais tomadores de decisão da empresa familiar participante. A organização selecionada é particularmente adequada para iluminar o fenômeno em questão e entender o relacionamento entre as variáveis, pois fornece uma base forte para explicação de teorias ao ser particularmente reveladora para analisar o objeto de estudo dentro da configuração desta empresa familiar.

Os fatores socioemocionais da Continuidade, Comunidade, Conexão e Comando se fazem presentes nas pequenas empresas familiares brasileiras através das premissas de decisão, que, por sua vez, são utilizadas para garantir o alcance da ampla gama de objetivos econômicos e não-econômicos estipulados pelos gestores. As entrevistas deste estudo mostraram que a tomada de decisão não pode ser baseada única e exclusivamente em fatores objetivos, pois eles não captam a complexidade existente nos aspectos não econômicos que também são importantes para manter a organização operando de acordo com sua missão

As premissas de decisão refletem os fatores socioemocionais e possuem inter-relação com os objetivos não-econômicos e afetivos das pequenas empresas familiares, em decorrência da significância adquirida por esses aspectos no processo decisório da empresa estudada. Além disso, a adoção de indicadores financeiros formais não inibe a aplicação dos fatores socioemocionais no processo decisório pois foi identificado que mesmo com o acompanhamento de indicadores de indicadores, os entrevistados continuam considerando os 4C’s na tomada de decisão para garantir o atingimento dos principais objetivos.

MILLER, Danny; BRETON-MILLER, Isabelle Le. Management Insights from Great and Struggling Family Businesses. Lrp Journal. Londres, p. 517-530. dez. 2005. PIMENTEL, Duarte; SCHOLTEN, Marc; COUTO, Joao Pedro. Fast or slow? Decision-making styles in small family and nonfamily firms. Journal Of Family Business Management, v. 8, n. 2, p. 113-125, 9 jul. 2018. MACEDO, Marcelo Alvaro da Silva; OLIVEIRA, Murilo Alvarenga; ALYRIO, Rovigati Danilo; ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de, Heurísticas e Vieses de Decisão: a Racionalidade Limitada no Processo Decisório. 2006. 30 f. UFRRJ, Rio de Janeiro, 2006