Resumo

A questão da diversidade de gênero no Conselho de Administração tem sido tema frequente nos meios acadêmicos e empresarial. Marchini et al. (2017) destacam que as características estruturais e comportamentais dos membros do Conselho de Administração podem ter impacto em suas decisões e, por consequência, no desempenho positivo ou negativo de uma empresa. Apesar da importância do tema, existe ainda poucos estudos no Brasil, daí a necessidade de pesquisas que possam contribuir com o preenchimento dessa lacuna e fomentar novos estudos.

O artigo tem como objetivo investigar a diversidade de gênero nos Conselhos de Administração das empresas listadas no Novo Mercado da B3 a partir de dados coletados nos Formulários de Referência referentes aos exercícios sociais de 2015 a 2019.

Diversas pesquisas apresentam resultados divergentes em relação a influência da presença de mulheres nos conselhos de diferentes tipos de empresas. Por um lado, a presença feminina na alta administração aumenta a diversidade de competências, proporciona pontos de vistas diversos e torna o processo de tomada de decisão mais eficiente e representativo, promovendo aumento de valor e do desempenho da organização. Por outro lado, a diversidade na alta administração pode levar a mais conflitos e tornar o processo decisório lento e ineficiente. (CARVALHAL-DA-SILVA; MARGEM,2015)

Os dados foram coletados dos Formulários de Referência dos exercícios sociais de 2015 a 2019 das empresas listadas no Novo Mercado da B3. Tais são referentes à: 1) Composição do Conselho de Administração: Número de mulheres nos conselhos; Número de mulheres no cargo de presidente e vice-presidente; Número total de conselheiros; Número de conselheiros independentes; Idade e profissão de cada conselheiro. 2) Estrutura de propriedade. E 3) Setor econômico. A análise destes dados foi feita por meio de estatística descritiva.

Os resultados apontam baixa presença feminina nos Conselhos de Administração nos altos cargos empresariais como presidência e vice-presidência.Além disso, foi observado que as empresas de controle familiar e estatal tiveram um aumento da participação feminina em seus conselhos assim como as empresas do setor de consumo cíclico. Quanto as características etárias dos membros dos conselhos, não foi observado uma diferença significativa entre os distintos gêneros. E quanto as carreiras profissionais destes, observou uma maior concentração de profissionais da área de Ciências Humanas.

É possível afirmar que houve um lento progresso da participação feminina nos Conselhos de Administração durante o período de 2015 a 2019. Ainda que bastante discreto, este leve incremento de números está associado a crescente pressão de agentes internos e externos das companhias.Esta pesquisa aponta o elevado nível de desigualdade de gênero nos conselhos das empresas listadas no Novo Mercado, visto que apenas 10,8% dos assentos eram ocupados pelas mulheres no ano de 2019. Assim, a mera inclusão feminina nos conselhos não se desvinculou ainda da estrutura de dominação masculina.

CARVALHAL-DA-SILVA, André Luiz; MARGEM, Helena. Mulheres em cargos de alta administração afetam o valor e desempenho das empresas brasileiras? Revista Brasileira de Finanças, v. 13, n. 1, p. 102-133, 2015. SILVEIRA, Alexandre Di Miceli et al. Women's participation in senior management positions: gender social relations, law and corporate governance. Law and Corporate Governance, 2014.