Resumo

O trabalho voluntário tem se tornado uma prática cada vez mais frequente no Brasil e o seu crescimento é resultado do desenvolvimento das organizações não governamentais (ONGs) que compõem o terceiro setor. Ele consiste em uma ação espontânea, voluntária e consciente de indivíduos que dedicam tempo, conhecimento, energia e talento em prol de outras pessoas, sem receber qualquer tipo de remuneração pelos serviços prestados a elas. Em tempos de pandemia, o voluntariado tornou-se ainda mais essencial, uma vez que o cenário instável e de incertezas tende a gerar impactos negativos na sociedade.

A investigação apresentou a seguinte questão norteadora: quais são os sentimentos e as percepções dos voluntários de um abrigo infantil da Grande Vitória no contexto da pandemia da COVID-19? Portanto, esta pesquisa objetivou identificar e analisar quais são os sentimentos e as percepções dos voluntários de um abrigo infantil da Grande Vitória no contexto da pandemia da COVID-19.

O voluntariado remete a ideia de renúncia ao benefício próprio, em prol do interesse, do bem-estar e do desenvolvimento de outras pessoas (CAVALCANTE; SOUZA; NASCIMENTO; CUNHA, 2011). Os sentimentos se referem a emoções e estados afetivos que possuem funções adaptativas de natureza social, moral e autoconsciente (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2015). A percepção é um processo que envolve a recepção do estímulo pelos órgãos dos sentidos até a atribuição de significado ao estímulo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2018) e resultado da estrutura e dinâmica de personalidade do indivíduo (RIES, 2004).

A abordagem foi qualitativa, visto que, as percepções e os sentimentos dos participantes da pesquisa envolvem descrições verbais e não dados mensuráveis numericamente (GIL, 2019). A pesquisa foi realizada em um Abrigo institucional, especificamente no Centro de Vivência (CV), localizado na Cidade de Vitória no Estado do Espírito Santo. Ao todo, treze indivíduos aceitaram participar das entrevistas e eram pertencentes a três grupos de voluntários que atuavam no CV. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e submetidos à análise de conteúdo.

Os resultados demonstraram que durante a pandemia houve o predomínio nos voluntários de sentimentos de saudade, angústia e cuidado, gerados pela percepção da ausência do contato físico, da interação e das trocas com as crianças, e também o sentimento de impotência pelo fato de o voluntário não poder fazer algo para reverter a situação. Destaca-se que o voluntariado evoca vivências que geram um paradoxo entre os sentimentos de envolvimento e não envolvimento afetivo, e que a religiosidade se configura como um elemento presente nas ações voluntárias.

O trabalho voluntário é um complexo que contempla os lados financeiro, material e afetivo. A pandemia COVID-19 possibilitou desenvolver alternativas de contatos, fortaleceu compromissos e envolvimentos afetivos e evidenciou a necessidade da persistência, da constância e do comprometimento com o trabalho voluntário.

CAVALCANTE, C. E.; SOUZA, W. J.; NASCIMENTO, M. A. A.; CUNHA, A. S. R. Elementos do trabalho voluntário: motivos e expectativas na pastoral da criança de João Pessoa/PB. RECADM, v. 10, n. 1, p. 98-110, 2011. BOCK; A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. E-book. RIES, B. E. Sensação e percepção. In: RIES, B. E.; RODRIGUES, E. W. (Orgs). Psicologia e Educação: fundamentos e reflexões. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 49-66