Resumo

O teletrabalho passa a ser uma realidade cada vez mais difundida nas organizações modernas com o contínuo processo de desenvolvimento tecnológico. Nesse ínterim, o teletrabalho vem sido percebido como uma forma de trabalho que oportuniza benefícios tanto para a organização quanto para o trabalhador, tornando-se ainda mais necessária a compreensão aprofundada das implicações da sua operacionalização para as pessoas e para as organizações.

O atual contexto de pandemia promoveu a aceleração da implementação das políticas de teletrabalho, sobretudo no setor público, cuja continuidade de atividades é fundamental para o enfrentamento da atual crise. Com isso, destaca-se a necessidade de se aprofundar a literatura teórica e empírica acerca dos possíveis efeitos do teletrabalho. O presente estudo buscou identificar os aspectos vantajosos e desvantajosos do teletrabalho apresentados pela literatura e analisar a sua incidência em relatos acerca das vivências atuais de teletrabalhadores em organizações públicas.

O Teletrabalho é definido como o desempenho de atividades laborais a distância, por meio de tecnologias de informação e comunicação. As vantagens e desvantagens do teletrabalho vêm sendo abordadas pela literatura e envolvem aspectos como maior qualidade de vida, autonomia e flexibilidade, redução de custos e conciliação trabalho-família. Por outro lado, pode proporcionar o isolamento profissional de teletrabalhadores, aumento de trabalho e prejuízos à saúde. Demonstra-se que o regime de teletrabalho possui condições que devem ser consideradas na sua implementação nas organizações públicas.

A presente pesquisa, observacional de campo, classifica-se como descritiva com recorte transversal no intuito de demonstrar as percepções atuais de teletrabalhadores no serviço público. Para tanto, aplicaram-se entrevistas semiestruturadas junto a uma amostra de 11 servidores dos três poderes e diferentes esferas de governo. As falas foram transcritas e sistematizadas como recortes de teor significativo para fins de categorização e contagem de frequência em fatores identificados, conforme a literatura, como sendo uma vantagem ou desvantagem do teletrabalho.

O teletrabalho possui em sua maior parte, aspectos vantajosos nos contextos pesquisados, inclusive com aspectos positivos que se mostraram unânimes. Por outro lado, a análise dos relatos demonstra que aspectos problemáticos podem ocorrer de forma associada aos aspectos vantajosos. Com isso enseja-se uma perspectiva de cautela e monitoramento, por parte da organização, acerca do quanto o teletrabalho está produzindo as vantagens esperadas, ou promovendo, seja de maneira generalizada ou individual, desvantagens consideráveis para a vida pessoal e profissional dos trabalhadores.

A implantação do teletrabalho, na percepção dos servidores entrevistados, possui maiores vantagens do que desvantagens. Os principais fatores relatados corroboram muitas das previsões da literatura, sendo que o presente estudo avança na descrição qualitativa das percepções e estados psicológicos vivenciados pelos servidores. Para as organizações, nota-se que é importante que haja condições adequadas em nível estrutural e organizacional e no nível das tarefas para que se viabilize o teletrabalho sem prejuízo à produtividade bem como ao bem-estar e engajamento dos servidores.

ABBAD, G. da S. et al. Percepções de teletrabalhadores e trabalhadores presenciais sobre desenho do trabalho. Rev. Psicol., Organ. Trab., Brasília, v. 19, n. 4, p. 772-780, dez. 2019. BARROS, A. M.; SILVA, J. R. G. Percepções dos indivíduos sobre as consequências do teletrabalho na configuração home-office: estudo de caso na Shell Brasil. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 71-91, 2010. LEGENTIL, J. et al. O Estado da Arte da Pesquisa sobre Teletrabalho: uma revisão sistemática da literatura brasileira de 1995 a 2018. In: Seminários de Administração, XXI, Semead, USP,,p. 15, 2018