Resumo

A sobrevivência das organizações está atrelada, dentre outros fatores, a sua resiliência, característica definida enquanto a sua capacidade, junto à adoção de um modelo de gestão eficiente e sustentável, de responder rapidamente a ameaças internas e externas e lidar com contextos de risco e incerteza. A crise vivenciada a partir de março de 2020 com a pandemia da Covid-19 a qual instaurou incertezas no cenário sanitário, econômico e social em todo o mundo ao forçar a adoção de medidas de isolamento social, foi um destes momentos que colocou à prova a capacidade de sobrevivência das empresas.

Ainda que os efeitos sejam sentidos de modo generalizado pelas empresas, este cenário afeta especialmente as micro e pequenas empresas (MPEs), que possuem desafios particulares atrelados à diminuição na demanda e redução no acesso a financiamento e crédito. Segundo dados do Sebrae (2020), em levantamento quanto ao impacto da pandemia nas MPEs brasileiras, turismo e economia criativa figuram enquanto um dos setores mais afetados pela pandemia. Diante deste contexto, o presente estudo objetiva examinar os determinantes da resiliência das MPEs de ambos os setores.

A resiliência no contexto das organizações é um tema de crescente interesse tendo em vista o contexto global marcado pelo aumento da incerteza (Gibson e Tarrant, 2010) e tida enquanto fator importante para garantir a sobrevivência empresarial, como demonstra Iftikhar et al (2021). Iftikhar et al (2021) afirma que tanto as dimensões financeiras quanto não-financeiras afetam a performance das organizações, e por isso, ambas devem ser investigadas quando se investiga a resiliência.

A partir do uso da base de dados da 2ª edição da pesquisa online “O Impacto da pandemia de coronavírus nos Pequenos Negócios” promovida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) entre 03 e 07 de abril, é empregado modelo binomial negativo a fim de examinar a influência das variáveis à nível empresarial e do capital humano sobre a resiliência empresarial, sendo esta dada pela quantidade de dias que as empresas conseguem permanecer fechadas durante o período de isolamento social e ainda sim possuir recursos financeiros para honrar seus compromissos financeiros.

Os resultados revelam que empresas com menos funcionários e menor tempo de existência são mais resilientes e ainda que altas taxas de faturamento corroboram para a resiliência. Todavia, possuir um bom controle da situação financeira se mostrou um fator muito importante. O aumento do alto nível de escolaridade do(a) empreendedor(a) demonstrou relação direta com a resiliência, e empresas comandadas por homens mostraram-se mais resilientes, o que pode estar atrelado às maiores dificuldades encontradas pelas mulheres ao empreenderem, enquanto para a idade não houve resultados conclusivos.

O presente estudo atinge seu objetivo ao ser capaz de analisar a influência das variáveis selecionadas sobre a resiliência empresarial nos setores de turismo e economia criativa, diante de um cenário de crise. Apesar de não ter sido possível atestar padrões para todas as variáveis, o estudo corrobora com a literatura ao verificar que tanto as variáveis de carácter empresarial quanto capital humano possuem influência na resiliência.

Gibson, C. A., & Tarrant, M. (2010). A “Conceptual Models” Approach to Organisational Resilience. The Australian Journal of Emergency Management, 25(2), 6–12. https://search.informit.org/doi/10.3316/informit.084520139241216 Iftikhar, A., Purvis, L., & Giannoccaro, I. (2021). A meta-analytical review of antecedents and outcomes of firm resilience. Journal of Business Research, 135, 408-425. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2021.06.048