Resumo

O relatório do auditor sofreu alterações significativas com a NBC TA 701, com a inclusão da divulgação dos principais assuntos de auditoria, ou seja, assuntos que o auditor considere mais significantes das demonstrações financeiras (FERREIRA; MORAIS, 2020). Nesse sentido, o comitê de auditoria, como mecanismo interno de governança corporativa, auxilia no controle sobre a qualidade das demonstrações financeiras, e a diversidade entre os membros constitui importante ferramenta para promover pluralidade de argumentos, que pode resultar em processos de tomada de decisões mais seguros e eficazes.

A literatura preconiza que o grau de cooperação entre o comitê de auditoria e o auditor externo pode ser fortalecido pelos membros do gênero feminino. Dessa forma, o estudo tem como problema de pesquisa: Qual a relação entre a diversidade de gênero no comitê de auditoria e os PAAs divulgados nos relatórios de auditoria das empresas listadas na B3? O trabalho tem como objetivo geral analisar a relação entre a diversidade de gênero no comitê de auditoria e os PAAs divulgados nos relatórios de auditoria das empresas listadas na B3 no período de 2016 a 2020.

Os principais assuntos de auditoria (PAAs) abordam temas normalmente relacionados a áreas complexas das companhias, nas quais existe uma margem significativa para julgamentos da administração, sendo importante o acompanhamento por órgãos consultivos e de supervisão como o comitê de auditoria (COLARES; ALVES; MIRANDA, 2020). O gênero feminino no comitê de auditoria pode influenciar na eficácia e na qualidade dos relatórios de auditoria, visto que mulheres possuem maior aversão ao risco e diligência, o que pode contribuir para redução de erros e de assimetria informacional (SILVA et al., 2020).

Foi utilizada metodologia descritiva, quantitativa e documental em uma amostra de 66 empresas listadas na B3. Foram consideradas como variáveis dependentes os principais assuntos de auditoria no geral e segregados no nível de entidade e conta, e como independente o percentual de mulheres no comitê de auditoria. Os dados foram extraídos das demonstrações contábeis, dos relatórios dos auditores independentes (RAI) e do Formulário de Referência, de 2016 a 2020, e analisados por meio de estatística descritiva, testes de correlação e regressão linear múltipla Pooled OLS.

Os resultados da análise descritiva demonstraram baixa representatividade de membros do gênero feminino no comitê de auditoria. Quanto à ao teste de correlação, houve correlação positiva e significante entre a participação feminina no comitê de auditoria e as quantidades de PAAs e de PAAs à nível de entidade. Através da regressão, revela-se relação positiva e significante entre a diversidade de gênero no comitê de auditoria e a divulgação total de PAAs.

O estudo evidenciou associação positiva entre a diversidade de gênero no comitê de auditoria e a divulgação dos principais assuntos de auditoria, divergindo do resultado esperado de que a participação feminina implicaria em uma melhor governança corporativa e menor risco percebido pela auditoria com uma menor divulgação de PAAs.

COLARES, A. C. V.; ALVES, K. C.; MIRANDA, L. T. G. Relação entre as características do comitê de auditoria e da auditoria independente das companhias abertas da B3. Revista Ambiente Contábil, v. 12, n. 1, 2020. FERREIRA, C.; MORAIS, A. I. Análise da relação entre características das empresas e os key audit matters divulgados. Revista Contabilidade & Finanças, v. 1, n. 83, p. 262-274, 2020. SILVA, B. S.; SILVA, D. G.; PINHEIRO, L. E. T.; FRANCISCO, J. R. S. Efeito do gênero na qualidade do serviço de auditoria. RAGC, v. 8, n. 37, 2020.