Resumo

A recente virada neoliberal que o mundo tem tomado acompanha o uso de plataformas digitais e principalmente de redes sociais para a disseminação de diferentes discursos políticos. No meio online é característica a produção e compartilhamento de conteúdo acessível, incluindo piadas de internet, também chamadas popularmente como memes. Neste interim, este artigo tem por objetivo entender o papel do humor na construção discursiva de um CEO ativista em plataformas digitais.

Considerando esse objetivo, desenvolvemos a pesquisa visando responder duas perguntas específicas: (1) “Qual é a função das piadas de internet no discurso de um CEO ativista?”; (2) “De quais formas o humor se manifesta no discurso de um CEO ativista?”.

Para desenvolver nossas respostas buscamos amparo da incipiente literatura sobre ativismo de CEOs; em discussões feitas sobre piadas políticas e memes; e, por fim, na teoria pós-fundacionalista do discurso, cuja elaboração se fundamenta nas contribuições teóricas de Laclau,e Mouffe.

A pesquisa empírica consiste na análise do Instagram de Luciano Hang, um CEO ativista conservador, e o uso do humor em sua construção discursiva. Para tanto, construímos um corpus linguístico através da coleta de 3.051 postagens na rede social, contudo, dado nosso foco em piadas de internet, analisamos 183 conteúdos, sendo esses vídeos, imagens e textos. Fizemos essa análise nos amparando na estratégia de análise de discurso pós-fundacionalista.

Utilizando a teoria pós-fundacionalista do discurso foi possível entender como o uso do humor auxilia na construção de um antagônico discursivo, de significantes vazios e no deslocamento de discursos concorrentes. As piadas de internet no discurso assumem as funções de ação e estratégia, enquanto se manifestam como piadas consigo mesmo, chacota com o antagonista e exaltação dos valores do discurso. São essas dinâmicas proporcionam o engajamento do CEO ativista com seu público-alvo e dissemina seu posicionamento político.

Ao perseguirmos o objetivo de entender o papel do humor nessa articulação discursiva, novas reflexões surgiram no processo. Primeiro, fazemos o alerta com relação aos aspectos contextuais na elaboração teórica, pois o desenvolvimento teórico presente na literatura fundamenta primariamente em casos estadunidenses. Segundo, compreendemos que estudar as permissões para a forma de atuação de um CEO ativista podem ajudar a entender as diferenças entre casos de ativismo. Por fim, recomendamos cuidado ao avaliar as intenções dos CEO ativistas, pois esses têm interesses corporativos.

Branicki, L., Brammer, S., Pullen, A., & Rhodes, C. (2021). The Morality of “new” CEO Activism. Journal of Business Ethics, 170(2), 269–285 Laclau, E., & Mouffe, C. (2015). Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. São Paulo: Intermeios. (Obra originalmente publicada em 1985) Marttila, T. (2015). Post-foundational discourse analysis: From political difference to empirical research. Springer. Speier, H. (1998). Wit and Politics: An Essay on Power and Laughter. The Americian Journal of Sociology, 103(5), 1352-1401.