Resumo

As relações de trabalho no serviço público recebem constante observação e expectativa pela sociedade brasileira que demanda por melhores resultados por parte de seus agentes públicos. Diante de tais expectativas, o comprometimento dos servidores é afetado por elementos que podem degradar o ambiente de trabalho no serviço público. Um dos problemas que contribui para esta degradação é a prática do assédio moral contra os trabalhadores. Este ensaio aproxima os construtos - Assédio Moral e Comprometimento Organizacional - e uma possível correlação onde o primeiro afeta negativamente o segundo.

O estudo orientou-se pela seguinte problematização: há relação entre assédio moral e comprometimento organizacional no caso dos servidores públicos? Este artigo tem por objetivo refletir sobre as relações de causalidade entre assédio moral e comprometimento. Para tal, este ensaio se divide nas seguintes partes: introdução; as referências conceituais dos construtos centrais (assédio moral e comprometimento organizacional); argumentações em torno das possíveis relações entre os construtos e proposição do modelo integrativo; e perspectivas de pesquisa e reflexões finais.

O conceito de assédio moral, para este artigo, é a deterioração do ambiente e condições de trabalho, onde as atitudes negativas dos superiores em relação aos seus subordinados resultam em perdas para o trabalhador e a organização (FERRAZ, 2009). No campo do comprometimento organizacional, dentro do modelo de Meyer & Allen (1991), neste ensaio optou-se por analisar o comprometimento de base afetiva, ou seja, no vínculo pautado na crença e aceitação de valores e objetivos da organização, assim como na intenção de se esforçar em prol dela e no desejo de mantê-lo (BASTOS e AGUIAR, 2015).

Apesar de ocorrer em todos os tipos de organizações, o assédio moral no setor público é mais notório (HIRIGOYEN, 2006). A estabilidade no emprego faz com que o servidor tenha um comprometimento diferente com a organização pública e o assédio moral coloca este vínculo em questionamento (NACHTIGALL e CÁNEPA, 2020; GUIMARÃES, CANÇADO e LIMA, 2016), sobretudo diante uma cultura organizacional repressora, onde as agressões não são facilmente comprovadas - ocorrendo de modo sutil (BRETAS et al., 2020).

Apresenta-se a conclusão de que há uma relação negativa entre o assédio moral e o comprometimento organizacional dos servidores públicos. Tal constatação, isoladamente, não é suficiente. Isso deve impulsionar novas pesquisas sobre o tema, em organizações públicas de diferentes esferas dos três poderes. Além disso, é necessário que as organizações passem a construir estratégias que possibilitem maior segurança para o trabalhador, o qual, em situações de assédio moral, fica desamparado sem saber a quem pedir ajuda e socorro (NOGUEIRA et. al., 2020).

BASTOS, A. V. B.; AGUIAR, C. V. N. Comprometimento Organizacional. In: PALACIOS, K. P; PEIXOTO, A. L. A. Ferramentas de diagnóstico para organizações e trabalho. Porto Alegre: Artmed, p. 78-91, 2015. FERRAZ, Ana Maria Souto. Assédio moral no trabalho: relações com bases de poder do supervisor, autoconceito profissional e satisfação no trabalho. 2009. 164 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009. HIRIGOYEN, M.-F. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. Entre outros.