Resumo

A finitude dos recursos naturais, inevitavelmente, coloca em discussão o sistema linear de produção adotado pela grande maioria das organizações. Considerando que a escassez de matéria prima é uma realidade já enfrentada pelas empresas, a tendência que se observa é a transição gradativa para um sistema circular de produção, cujos modelos de negócios apresentem, desde a concepção, premissas para eliminação de resíduos e redução do desperdício (Julianelli, Caiado, Scavarda & Cruz, 2020). Modelos de negócios circulares tem permitido a criação de novos mercados.

Assim sendo, o estudo aqui apresentado foi desenvolvido com a pretensão de contribuir no preenchimento do gap teórico de como a inovação pode contribuir no suporte e implementação da economia circular e circularidade de recursos (Suchek et al, 2021; Salo et al., 2020). O objetivo geral de analisar como a inovação disruptiva e a circularidade de recursos estão presentes nos modelos de negócios de startups brasileiras.

Economia circular é um sistema regenerativo que visa reduzir a entrada de matéria prima, a geração de resíduos e a emissão de gases, via desaceleração e fechamento dos ciclos de material e energia (Geissdoerfer et al., 2017). Para tanto, se dá preferência para materiais de maior durabilidade, e se aplica a reutilização e reciclagem de materiais de forma a incluí-los novamente no ciclo produtivo, sem que haja perda de qualidade. Para Webster (2015), a proposta central da economia circular está na eliminação dos resíduos por meio da criação de fluxos cíclicos de recursos.

A pesquisa foi desenvolvida com base nas diretrizes de elaboração de estudo de caso preconizadas por Yin (2010). As startups foram escolhidas de forma não probabilística, por integrarem a base de dados da Associação Brasileira de Startups. Essa base de dados é composta por aproximadamente 6mil startups. Num primeiro momento os convites foram direcionados a foodtechs. Considerando o baixo índice de adesão desse segmento, foram feitos convites aleatórios a startups pertencentes a outros segmentos, o que permitiu a obtenção de 51 entrevistas em profundidade, categorizadas e analisadas.

Os resultados evidenciam que a inovação está presente na circularidade de recursos, por meio de diversas iniciativas parcialmente implantadas que permitem gerenciar dados, criar sistemas de integração de artefatos, gerar conectividade, acelerar a digitalização, estimular parcerias e cooperação entre atores da cadeia de suprimentos, promover gestão de microdados gerando novas oportunidades de criação de novos mercados e sistemas eficientes de transição para a circularidade de recursos. Portanto, conclui-se que a inovação disruptiva suporta a economia circular nas startups brasileiras.

Nas startups investigadas, as inovações disruptivas suportam os modelos de negócios circulares e as práticas de circularidade. Diversas iniciativas positivas foram mapeadas e que estão plenamente alinhadas as boas práticas sustentáveis e as diretrizes de governança sustentável globais, foram mapeadas. Entretanto, ainda há oportunidades para avanços, especialmente no que se refere a adoção plena das iniciativas de inovação e economia circular identificadas nas organizações pesquisadas.

Yin, R. K. (2010). Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman. Webster, K. (2015). The circular economy: a wealth of flows. United Kingdom: Ellen MacArthur Foundation Publishing. Weetman, C. (2019). Economia circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa. São Paulo: Atêntica Business. Zhang, W., Daim, T., Zhang, Q. (2018). Understanding the disruptive business model innovation of E-business microcredit: a comparative case study in China. Technology Analysis & Strategic Management, 30(7), p. 765-777.