Resumo

Atualmente, ao redor do mundo, existem cerca de 23 mil jogadores profissionais de jogos eletrônicos empenhados em jogar videogame de modo competitivo em nível profissional (ESPORTS EARNINGS, 2020(a)). Essa atividade é denominada pelo termo esports, entre outros. Em torno dos esports, criou-se um mercado atrativo e com oportunidades de rentabilização financeira e trabalho diversas. Frente a isso, a mídia vêm estampando casos de ascensão e sucesso profissional do mundo dos esportes eletrônicos contribuindo para fomentar sonhos e expectativas em torno do trabalho no contexto dos esports.

No contexto da sociedade contemporânea atual – denominada por Han (2015) como Sociedade do Desempenho, “cada um carrega consigo seu campo de trabalho” e explora a si próprio assumindo ao mesmo tempo a função de “prisioneiro e vigia, vítima e agressor" (HAN 2015, p. 25). Assim, o trabalho assume a tarefa de gerenciar o tempo que se apresenta dominado pelo pelo senso de produtividade e rentabilidade. (GAULEJAC, 2007). À vista disso, o presente estudo se propõe a refletir, à luz da Sociedade do Desempenho (HAN, 2015), sobre o trabalho no contexto dos esports.

Nos esports as competições, em geral, apresentam grande intensidade (JENNY et al, 2018). Os jogadores profissionais de esports se veem convocados a explorar seus diferentes recursos, conhecimentos, capacidades e competências em prol do trabalho (GORZ, 2005). A sociedade atual, diz de uma sociedade de desempenho (HAN, 2015), cujos meios de controle se apresentam cada vez mais sutis fazendo fazendo surgir novas formas de exploração do trabalho (GAULEJAC, 2007) – uma autoexploração (HAN, 2015).

Realizou-se um estudo exploratório de natureza qualitativa. A coleta de dados se deu a partir do episódio de podcast intitulado “Profissionais dos eSports", que foi transmitido pelo programa Nerdcast em 15 de maio de 2020. Para tanto, as interações e falas dos participantes do referido episódio de podcast, foram transcritas e analisadas por meio de análise de conteúdo (MINAYO et al.2009) à luz da fundamentação Teórica adotada – Han (2015).

Sob a lógica da Sociedade do Desempenho, que proclama o indivíduo à "livre" autoexploração (HAN, 2015), para se tornar mais habilidosos e propensos à ascensão e vitórias, os jogadores profissionais dos esports praticam rotinas regradas e treinamentos intensos que podem durar entre 12 a 14 horas diárias. Entretanto, apenas treinar para ser o melhor jogador profissional e vencer os campeonatos já não se mostra suficiente. Dos jogadores, passa-se a exigir que todas as suas qualidades, capacidades, ou seja, que a vida em sua completude esteja à disposição da rentabilidade e do trabalho.

O presente artigo buscou refletir sobre trabalho no contexto dos esports a partir do episódio de podcast intitulado “Profissionais dos eSports à Luz da Sociedade do Desempenho (HAN, 2015). As reflexões que daí emergem possibilitaram observar que no contexto dos esports o trabalho se mostra intensificado e reproduz as perspectivas que orientam a Sociedade do Desempenho, assim como a lógica imperante do “yes, we can” que a rege.

GAULEJAC, V. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. São Paulo: Idéias e Letras, 2007. GORZ, A. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume, 2005. HAN, B. C. Sociedade do cansaço. Vozes: Petrópolis, 2015. JIN, D. Korea’s online gaming empire. Cambridge: MIT Press, 2010. LAZZARATO, M.; NEGRI, A. Trabalho Imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 39 MARTONČIK M. E-sports: playing just for fun or playing to satisfy life goals? Comput Hum Behav., p. 208–11, 2015.