Resumo

Recentemente surgiram os veículos autônomos (VAs), caracterizados como veículos que trafegam através de algoritmos inteligentes, que detectam objetos e pessoas, analisam e monitoram o ambiente, controlando o automóvel. Para que a inserção dos VAs seja possível e continuada, é preciso analisar como, quando e quem essa modalidade de veículo é capaz de impactar. Nesse sentido, ao projetar um cenário ocupado pelos VAs, deve-se considerar todos os desafios e as mudanças sociais, políticas, econômicas e legais que esses veículos trarão consigo

Pesquisas indicam que as seguradoras de automóveis serão um dos negócios mais impactados pela inserção dos VAs. A principal cobertura hoje para um seguro de automóvel está associada ao erro humano. Os VAs possuem características avançadas de segurança, o que minimizará sua exposição ao risco e irá alterar a tratativa atual. Dessa maneira, o mercado das seguradoras de automóveis poderá diminuir em 40% em relação ao tamanho atual. Diante do contexto, o objetivo foi identificar os possíveis impactos da automação veicular no modelo de negócios de uma seguradora de automóveis.

Os VAs usam inteligência artificial para analisar o ambiente sem que exista a necessidade de um motorista. A inovação do modelo de negócios é diferente da inovação tecnológica embora esteja normalmente atrelada a uma tecnologia. As empresas devem se atentar às necessidades de modificação, alteração ou redesenho do seu modelo de negócios em resposta às tendências emergentes, que produzem efeitos imediatos de inovação em modelo de negócios. A revolução a ser desencadeada pela chegada dos VAs representará oportunidades para que as seguradoras de automóveis transformem seu BMC.

Utilizou-se estudo de caso com uma das maiores empresas latino-americanas no ramo de seguros. Os dados foram coletados em Medellín, Colômbia, onde a empresa nasceu em 1944, e São Paulo, Brasil, que iniciou a operação em 2016. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se a observação participante (05 a 30/08/19 em São Paulo e 22/10 a 19/11/2019 em Medellín), análise documental e entrevista de roteiro semiestruturado. Foram escolhidos 4 gestores da empresa na Colômbia e 2 colaboradores analistas no Brasil. As entrevistas foram gravadas e transcritas totalizando 49 páginas para análise.

Os dados foram analisados a partir do BMC que permitiu verificar os principais blocos que compõem o Modelo de Negócios da seguradora. No bloco de recursos principais, a telemetria presente nos veículos autônomos representará um importante recurso, pois permitirá a mitigação do risco e a atuação no pré-seguro ou seguro preventivo. Um novo risco foi identificado, que se encontra interligado a um dos benefícios sociais que os veículos autônomos trarão consigo, quais sejam, o transporte de pessoas idosas, crianças ou com alguma dificuldade de locomoção

A seguradora poderá vivenciar desafios aos VAs. Dentre eles, destaca-se 1) dificuldade de gerenciamento e uso de valor dos dados gerados pela telemetria; 2) ameaças de novos concorrentes, como as empresas desenvolvedoras do recurso telemétrico e insurtechs; 3) divergência entre os países no consenso jurídico sobre a responsabilidade civil; 4) ausência de ação efetiva da seguradora na formação do seguro, quando o bem segurado se tratar de um VA; 5) escassez da mão-de-obra para manutenção e reparo dos VAs; 6) possível redução dos prêmios dos seguros de automóveis na adoção dos VAs compartilhados

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