Resumo

Recorrentemente, afirma-se que a crença política do brasileiro está cada vez mais polarizada. Tal afirmação pauta-se especialmente no contraste entre as duas últimas eleições presidenciais, em 2014, elegemos um governo de esquerda; já em 2018, um governo de extrema direita. Isso porque, sob a ótica de teorias psicológica do comportamento eleitoral, o eleitor toma a decisão do seu voto baseada no grau de intensidade em relação a um conjunto de temas políticos associados às suas preferências (CAMPBELL et. al., 1964), se a atitude perante a tais temas muda, as preferências políticas acompanham.

Buscamos demonstrar que a população apresenta esquemas heterogêneos de organização de suas crenças políticas, indo além da distinção entre esquerda e direita. Para tanto, nós buscamos capturar tal heterogeneidade de crenças políticas por meio do método CCA. Tendo base estudos acerca da cultura política (CONVERSE, 2006), averiguamos as atitudes dos eleitores frente a quatro temas: gastos do governo, direitos civis, mudança social e política externa e humanitária. Identificamos três classes esquemáticas – Ideólogos, Quase Ideólogos e Interesse de Grupo – que apresentam lógicas distintas no voto.

Estudos contemporâneos pressupõem que a cultura política é formada por meio de significados compartilhados (WU, 2014), cujos esquemas culturais são captados por meio da apreciação cognitiva dos indivíduos sobre a realidade social (DIMAGGIO, 1997). Estes esquemas culturais são representados por um sistema, que consiste numa estrutura de ideias e atitudes em que os elementos são relacionados por uma interdependência funcional (CONVERSE, 2006). Quando estas ideias e atitudes estão relacionadas às predileções dos eleitores, temos o sistema de crenças políticas dos eleitores (JOST et al., 2009).

Os dados foram coletados por meio virtual, cujos respondentes foram selecionados em listas de telefone e e-mail, compomos uma amostra com 1417 casos. Acerca das variáveis, buscamos identificar os sistemas de crenças políticas do eleitor por meio de itens adaptados do ESEB (2014) e do LAPOP (2017), cujas atitudes foram medidas em escalas Likert de 5 pontos organizadas em 4 dimensões da cultura política. Como estratégia de identificação, buscamos um tratamento quase experimental nas classes esquemáticas por meio do Propensity Score Matching e analisamos por regressão logística a mudança de voto

Mapeamos os esquemas compartilhados acerca das crenças políticas do eleitor. O sistema de crenças políticas modera a relação entre posicionamento político e decisões políticas. Alguns indivíduos utilizam o sistema como mecanismo de decisão e julgamento. Ademais, apontamos que o sistema de crenças políticas se mostrou como elemento importante para análise do comportamento eleitoral, visto que eleitores com sistema de crenças menos consistente apresentaram duas vezes e meia mais chances de mudar o voto do que os eleitores com sistema de crenças mais consistente.

Identificamos 3 classes: 1) Ideólogos, cujo sistema de crenças é coeso, em que as dimensões políticas são altamente correlacionadas.2) Quase Ideólogos, cujas dimensões apresentam alguma coesão e consistência.3) Interesse de Grupo, cujas crenças e dimensões políticas são mal definidas. Quando analisamos a relação entre posicionamento político e as dimensões da cultura política, os resultados apontaram que, na classe de ideólogos mais do que nas outras classes, quanto maior o extremismo à direita, mais os indivíduos são contra a gastos do governo, direitos civis e política externa e humanitária.

CAMPBELL, Angus; CONVERSE, Philip E.; MILLER, Warren E.; STOKES, Donald E..The American Voter: an abridgment. New York: Wiley, 1964. CONVERSE, Philip E. The nature of belief systems in mass publics. Critical review, v. 18, n. 1-3, p. 1-74, [1964] 2006. DIMAGGIO, Paul. Culture and cognition. Annual review of sociology, v. 23, n. 1, p. 263-287, 1997. ESEB 2014, Estudo Eleitoral Brasileiro, 2014. JOST, John; FEDERICO, Christopher; NAPIER, Jaime. Political Ideology: Its Structure, Functions, and Elective Affinities. Annual Review of Psychology v. 60 n.1 p.307–37, 2009.