Resumo

Analisando a vida moderna, percebe-se que as relações entre produtos e pessoas, com suas características individuais, coletivas e culturais, implicam o comportamento de consumo individual e de grupos, a partir dos símbolos e imagens refletidos pelos produtos. A CCT, que analisa o modo como as manifestações particulares de cultura do consumo podem ser constituídas e transformadas por forças históricas mais amplas, poderia ser corroborada pela Teoria da Assemblage, que tem um interesses particular na investigação das forças de organização social, capazes promover arranjos específicos.

As indagações que motivaram a construção deste ensaio foram: Quais aspectos da Assemblage Theory poderiam corroborar com os pressupostos da CCT no contexto de estudos sobre consumo? Quais questões poderiam ser evidenciadas para uma agenda de pesquisa, baseada na relação entre Assemblage Theory e CCT? Assim, o principal objetivo do ensaio é discutir uma proposta de relação entre Assemblage Theory e CCT, evidenciando possíveis questões para composição de uma agenda para os pesquisadores de ambas as teorias, a partir de suas interseções.

A CCT corresponde às perspectivas teóricas que tratam dos relacionamentos dinâmicos entre as ações do consumidor, o mercado e significados culturais. Os consumidores são compreendidos como produtores de projetos de identidade que procedem usando os recursos simbólicos e materiais oferecidos pelo mercado (Arnould, 2006). A Assemblage Theory é uma perspectiva ontológica, que coloca seu cerne no entendimento dos elementos, atributos e atores em arranjos dinâmicos (Casotti & Suarez, 2016). Evidencia-se que existem relações entre o campo delimitado pela CCT e aquele definido pela Assemblage Theory.

Considerando as questões epistemológicas existentes entre CCT, Assemblage e suas reverberações, surge um desafio para as pesquisas sobre consumo e suas nuances, destacando a importância de esforços que favoreçam o entendimento individual e social de análise dos fenômenos com a interseção entre as duas teorias. Assim, a agenda de pesquisa proposta pode incluir, então, consumidores, mercados, valor, famílias, a si mesmo, casa, natureza, liderança, bem como a gestão dos corpos, do espaço e do gosto, como um sistema cultural e simbólico, envolto em seus aspectos sociais e mutáveis.

A partir das discussões desencadeadas neste ensaio, evidenciaram-se muitas oportunidades de se estabelecer uma conversação entre CCT e Assemblage Theory, considerando-se as pesquisas em Marketing, especialmente no contexto brasileiro, uma vez que o país apresenta riqueza cultural e diversificada, no que tange a questões históricas, sociais, econômicas e demográficas, atreladas ao aspecto do consumo. A Assemblage Theory constitui-se, conforme evidenciado, numa opção efetiva para fundamentação das pesquisas ligadas a CCT, por ser adequada para investigação do consumidor e suas relações culturais

Arnould, E. J. (2006). Consumer culture theory: retrospect and prospect. European Advances in Consumer Research, 7(1), 605–607. Casotti, L. M.; & Suarez, M. C. (2016). Dez anos de Consumer Culture Theory: Delimitações e aberturas. Revista de Administração de Empresas, 56(3), 353-359. DeLanda, M. (2006). A new philosophy of society assemblage theory and social complexity. New York, EUA: Continuum. Pinto, M. R.; & Lara, J. E. (2011). As experiências de consumo na perspectiva da teoria da cultura do consumo: identificando possíveis interlocuções e propondo uma agenda de pesquisa. Cadernos EBAPE.