Resumo

As organizações representam espaços carregados emocionalmente, pois todas as ações e na realidade a própria razão, requerem emoções facilitadoras apropriadas. Há nas organizações uma “cultura emocional” composta por um conjunto de práticas sociais em que as emoções incorporadas se configuram como um padrão de ação reconhecível. Assim, estudar as práticas emocionais nas organizações possibilita uma análise ampliada que transpassa apenas as emoções vivenciadas nesse ambiente e considera também quais processos de organização social as emoções produzem, reproduzem e sustentam no cotidiano laboral.

Objetivamos com esse ensaio teórico propor uma percurso teórico-metodológico para investigação e análise de práticas emocionais nas organizações, haja visto que não existe atualmente uma metodologia única capaz de atender a todos os critérios necessários quando as práticas emocionais são a unidade de análise de uma pesquisa. Especificamente, propomos um esquema baseado na praxeologia de Pierre Bourdieu para análise organizacional adaptado com dispositivos teóricos-metodológicos da Análise Crítica do Discurso e da Psicologia Discursiva Crítica e utilizando técnicas de pesquisa adequadas.

O ensaio foi construído a partir de uma elaboração ontológica e epistemológica pautada nos pressupostos da praxeologia relacional de Bourdieu. Foram utilizadas também pesquisas que compõem o campo dos estudos baseados na prática (EBP) e contribuições relativas à trabalhos teóricos da prática. No nosso argumento sobre as práticas emocionais utilizamos além desse referencial citado anteriormente, autores que trabalham no campo das emoções. Por fim, foram utilizadas contribuições da Análise Crítica do Discurso (ACD), da Psicologia Discursiva Crítica e de estratégias de pesquisa qualitativa.

A partir da fundamentação teórica propomos um esquema teórico-metodológico de três níveis: Teorização; Investigação e Análise Crítica. Na investigação são propostas quatro etapas para coleta e análise de dados sobre a estrutura do subcampo, os capitais em jogo, os habitus dos agentes envolvidos, suas estratégias e, por fim, as práticas sociais e emocionais. Para análise do corpus de dados sugerimos o esquema de ACD de Fairclough (2001) adaptado com os pressupostos das práticas afetivo-discursivas, teoria desenvolvida pela principal autora da Psicologia Discursiva Crítica.

Apesar de parecer um pouco improvável que um pesquisador possa compreender a lógica de uma prática emocional cotidiana e a sua própria prática de pesquisa, dada a natureza fluida e multidimensional do exercício prático, acreditamos que dispositivos teóricos relacionais, flexíveis e adaptáveis, notadamente aqueles que compõem a tríade conceitual de Bourdieu (habitus-campo-capital), além de pressupostos epistemológicos e ontológicos robustos, conjuntamente com estratégias e técnicas de pesquisa adequadas, são capazes de investigar e compreender tais práticas emocionais.

ANGROSINO, M. BACHELARD, G BARANGER, D. BARBALET, J BIERNACKI, R BISPO et al. (2014) BOURDIEU, P BOURDIEU et al. BOURDIEU, P.; WACQUANT, L. J BURKITT, I CROSSLEY, N EMIRBAYER, M.; JOHNSON, V. EVERETT, J EVERTS, J.; WAGNER, L. FAIRCLOUGH, N. FELDMAN; ORLIKOWSKI FINEMAN, S FLAM, H GHERARDI, S GIDDENS, A HOCHSCHILD, A LAHIRE, B LAMMI, I. J LE BRETON, D MAY, T MICELI, S MUMFORD, D NIVEN, K OLIVEIRA, J. S PETERS, G PROBYN, E RECKWITZ, A ROBBINS, D ROUSE, J SCHATZKI, T. R SCHEER, M SOLOMON, R. C THIRY-CHERQUES, H. R VANDENBERGHE, F VORONOV, M WETHERELL, M