Resumo

As universidades sempre desempenharam um papel formativo de extrema relevância social, como centros de produção de conhecimento científico e tecnológico. Entretanto, diante da necessidade de promover melhores condições de acesso às oportunidades profissionais à população, somado ao processo histórico de elitização do ensino superior brasileiro, as cotas surgiram nas universidades como medidas de inclusão e ampliação das possibilidades de ingresso no ensino superior para grupos sociais específicos, cuja permanência e desempenho acadêmicos são objetivos de investigação deste estudo.

Neste contexto das dificuldades de continuação acadêmica ao longo da graduação, este trabalho busca responder a seguinte questão: qual a relação entre o desempenho acadêmico e os perfis socioeconômico e raciais dos estudantes? Assim, como objetivo geral, se propõe a investigar o desempenho acadêmico dos estudantes ingressantes na UFU nos cursos de graduação presenciais, logo após a implementação das ações oriundas da política de cotas na instituição em 2013, a partir das influências dos perfis socioeconômico e racial, no decorrer dos cursos, até o ano de 2017.

A análise bibliográfica leva em consideração diversos autores estudiosos das políticas públicas de ação afirmativa de cotas universitárias. Os trabalhos teórico-empíricos analisados apontam para a existência de uma lacuna teórica acerca do fenômeno social desempenho acadêmico, de natureza multifacetado e multivariado, uma vez que a quase totalidades dos trabalhos desconsidera a relação existente entre desempenho e características socioeconômicas e raciais. Os autores apontam para menor desempenho acadêmico para estudantes socialmente vulneráveis ou pertencentes a grupos PPI.

Análise quantitativa das diferenças de médias por grupos distintos para o desempenho acadêmico por grupos de estudantes associado a características socioeconômica e raciais, utilizando dados secundários obtidos a partir dos sistemas oficiais de registro acadêmico da UFU e do questionário socioeconômico e racial disponibilizado à comunidade e de resposta obrigatória pelos candidatos aos processos seletivos Vestibular nos anos de 2013 e 2014 pela UFU, após a implementação da Leit de Cotas na Instituição. As comparações de médias foram realizadas por meio do software IBM-SPSS.

Estudantes cotistas pertencentes a grupos de PPI, bem como aqueles de baixa renda familiar, oriundos de famílias com menor capital intelectual/cultural, ou ainda de formação pregressa predominantemente pública, e ingressos no mercado de trabalho apresentaram menores desempenhos acadêmicos quando comparados a estudantes não cotistas, brancos, pertencentes a famílias que possuem maior conhecimento e percebem maiores rendimentos mensais. Entretanto, observou-se que a participação no mercado de trabalho iguala as condições de rendimento acadêmico para os grupos de cotistas e não cotistas.

Evidenciou-se a existência de diferença de desempenho relacionado a raça/cor, com vantagem para os estudantes brancos. Estudantes pardos, negros, orientais e indígenas, apresentaram menor desempenho acadêmico. Percebeu-se também, considerável diferença de desempenho no tocante à distribuição de renda bruta familiar. Observou-se que desempenho acadêmico varia de acordo com a renda bruta familiar. No tocante ao capital cultural/intelectual familiar e formação escolar pregressa os cotistas perceberam desempenho acadêmico inferior. Em relação ao mercado de trabalho, os desempenhos se assemelharam.

Moehlecke (2002), Oliven (2007), Saravia e Ferrarezi (2007), Santos (2017), De Moraes e Da Silva Telles (2018), Mccowan (2007), Aprile e Barone (2009), Sguissardi (2008), Oliviera e Carnielli (2010), Andrés (2011), Ristoff (2014), Sguissardi (2015), Bittencourt et al. (2017), Oliveira e Melo-Silva (2010), Santos (2013), Brasil (2012), Mec (2012), CONSUN (2012), CONSUN (2013), CONSUN (2015), Queiroz et al. (2015), Silva et al. (2016), Gandolfi et al. (2016), Cohen et al. (2018), Moura (2018), Melo e Naves (2016), Bonnas (2019), Gil (2007/2008), Gerhardt e Silveira (2009), Duquia e Bastos (2006)