Resumo

O setor de transportes coletivos tem investido em tecnologia da informação para melhor seu controle operacional, principalmente através dos ITS, e isto causa impacto na indústria e deve ser acompanhado pela academia. Cabe ao pesquisador, analisar também os impactos destas mudanças no comportamento do trabalhador. As empresas justificam seus investimentos, alegando a necessidade de manter tudo sobre controle. Entretanto, este controle tende a se tornar coercitivo e pode ocasionar reflexos sobre o trabalhador que já vive cercado de elementos estressores: trânsito, pressão por horário e clientes.

Como o controle constante das atividades afeta o comportamento do trabalhador do setor de transportes coletivos e seu desempenho individual, a partir das suas percepções? O objetivo geral desta pesquisa foi verificar como o controle constante das atividades do trabalhador do setor de transportes coletivos afeta seu comportamento e o seu desempenho individual.

Para Foucault (2013), a disciplina caracteriza-se pelo enquadramento das individualidades no interior de um espaço, no qual os procedimentos de vigilância e controle são feitos, gerando uma forma específica de normalização dos comportamentos. Segundo Doro et al (2017), para fazer carreira ou mesmo manter o emprego, em um ambiente de fortes pressões e exigências de conformidade, o trabalhador assume diferetes posturas.Santos Júnior (2011) realizou uma pesquisa bibliométrica para saber do que adoecem e morrem os motoristas, em todo o mundo com som sofrimentos físicos e mentais.

Esta pesquisa foi caracterizada como pesquisa qualitativa. Este estudo teve como posicionamento epistemológico a postura interpretativista. O campo da pesquisa foi restrito a três empresas de transportes coletivos que atuam nas cidades de Niterói, São Gonçalo e Maricá. Os sujeitos da pesquisa foram trabalhadores das empresas informadas ligados às atividades de controle operacional: motoristas e gestores. No que diz respeito ao tratamento dos dados coletados por meio das entrevistas, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, conforme Bardin (2016).

A análise foi feita tendo por base as 8(oito) categorias de análise: tempo de profissão e as novas tecnologias; visão dos motoristas e gestores sobre a profissão; os sistemas e mecanismos de controle; alteração do comportamento; estresse e mecanismos de controle; a influência do controle sobre o desempenho individual; e recompensas ou punições;e o panoptismo e a disciplina. A amostra foi composta por profissionais cujos perfil se mostrou mais suscetível à aquiescência e submissão. Consolidou estudos anteriores e destacou a pressão por cumprimento de horário.

Esta pesquisa considera que os novos recursos utilizados para controlar o trabalho neste setor têm reduzido atitudes e comportamentos considerados pelos próprios motoristas como indevidos no exercício da profissão. O motorista indisciplinado, displicente e irresponsável não consegue mais atuar nas empresas por muito tempo. Quanto ao desempenho individual, percebeu-se que não são avaliados por conduzirem de modo eficiente o veículo, pois o recurso para isto as empresas não dispõem; assim, são avaliados e recompensados se economizarem combustíveis e de acordo com seu comportamento.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Tradução Luis Antero Reto, Augusto Pinheiro. São Paulo. Edições 70. 2016 . GAULEJAC, V. A gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. 3ª Edição, São Paulo: Ideias e Letras, 2007. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. Ed. Petrópolis, Vozes, 41ª. 288p, 2013. SISTEMAS INTELIGENTES DE TRANSPORTES – Série Cadernos Técnicos. Volume 8. 2012. SOBRAL, Felipe.; PECI, Alketa. Administração. Teoria e prática no contexto brasileiro. 2ª Edição. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2013.