Resumo

Atualmente, o dilema enfrentado pelas mulheres é a conciliação da carreira profissional com a maternidade: dedicar-se unicamente ao trabalho e à carreira, deixar o posto de trabalho temporariamente para a gestação ou não se tornar mãe? Muitos estudos (ex.: BELTRAME, DONELLI, 2012) buscam avaliar a dedicação da mulher à carreira profissional, seu crescimento em cargos de liderança, e até mesmo a interrupção de suas atividades para se tornar mãe. No entanto, faz-se necessário tratar também dificuldades do retorno ao trabalho de mulheres e à carreira em prol da maternidade.

Conforme Pizaia et al. (2018), a pressão e o desgaste da mulher com a casa e com a família a impedem de ampliar horas de trabalho e estudo, o que se apresenta como barreira de crescimento profissional. Tal cenário é realidade em todo o país, inclusive na região metropolitana de Londrina – PR (PIZAIA et al., 2018), região esta em que as autoras deste trabalho atuam profissional e academicamente, e puderam se utilizar como campo de estudo. Assim, o objetivo deste artigo é compreender as dificuldades para recolocação de mulheres londrinenses ao mercado de trabalho após a maternidade.

Ao invés de auxiliar e facilitar o retorno da mulher, o mercado de trabalho penaliza a maternidade, criando obstáculos em vez dar suporte (ARUN; ARUN; BOROOAH, 2004). A Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicou em 2016, a pesquisa de Machado e Neto, com o tema “The Labor Market Consequences of Maternity Leave Policies: Evidence from Brazil”, apontando que ocorre a queda do emprego das mulheres após a licença a maternidade, e que após 24 meses, metade das mulheres que tiram licença maternidade estão fora do mercado de trabalho.

Para obtenção e análise dos dados foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa com objetivo descritivo, e para o levantamento dos dados foram realizadas entrevistas com roteiro semiestruturado, aplicado a mães que moram ou atuam em Londrina – PR. A coleta de dados se deu por meio de entrevistas individuais, que ocorreram de modo presencial ou por videochamada, através do Google Meet, com 5 mulheres mães em atividade profissional ou não, na cidade de Londrina – PR, que possuem filhos de até 5 anos de idade. Quanto à análise de dados, foi realizada uma análise de categorias.

Houve homogeneidade nas respostas, apontando que foi bem dificultoso retomar as atividades no mercado de trabalho após a maternidade. Dentre os obstáculos, as entrevistadas apontam a rotina familiar pós-maternidade, o processo de adaptação e amamentação do bebê e obstáculos criados pelas próprias organizações empregadoras, cujos gestores ou empregadores as colocam em uma posição de incapaz devido ao filho ser pequeno. Foi possível ver ainda a falta de receptividade no ambiente de trabalho, no qual cada entrevistada afirmou ter passado por processo discriminatório por se tornar mãe.

Uma grande barreira às mães ou trabalhadoras que desejam ser mães é encontrada nas organizações durante processos seletivos, fator de destaque entre todas as entrevistadas, que apontaram uma série de intolerâncias no processo de recrutamento e seleção, onde suas competências são colocadas à prova e os questionamentos são direcionados à maternidade e aos filhos. As mães participantes pedem por um apoio maior da sociedade, que as conquistas das mulheres sejam ampliadas, assegurando-se mais direitos em relação à maternidade, e que as organizações disponibilizem mais recursos para mulheres mães.

ARUN, S. V.; ARUN, T. G.; BOROOAH, V. K. The effect of career breaks on the working lives of women. Feminist Economics, v. 10, n. 1, p. 65-84, 2004. BELTRAME, G. R.; DONELLI, T. M. S. Maternidade e carreira: desafios frente à conciliação de papéis. Aletheia, n. 38-39, p. 206-217, 2012. MACHADO, C.; NETO, V. R. D. P. The labor market consequences of maternity leave policies: evidence from Brazil. 2016. PIZAIA, J.C. et al. A geografia do gênero e a análise das desigualdades de emprego e renda na região metropolitana de Londrina – PR. XIX Encontro Nacional de Geógrafos, 2018.