Resumo

Título do Artigo

Representações discursivas das microagressões sofridas por pessoas trans no contexto social e no mundo do trabalho
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Palavras Chave

Microagressões
Transfobia
Pessoas trans

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Diversidade, Diferença e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Bárbara Novaes Medeiros
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) - Programa de Pós-graduação em Administração
2 - Gustavo Henrique Carvalho de Castro
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) - Campus Darcy Ribeiro
3 - Marcus Vinicius Soares Siqueira
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) - DF

Reumo

Pessoas trans são afetadas por múltiplas violências transfóbicas – formas historicamente instituídas de discriminação e estigmatização que se destinam a reiterar a condição de abjeção desses corpos. É marcante a violência física como principal modalidade de agressão, que pode variar desde a lesão corporal ao homicídio. No entanto, comportamentos de exclusão sutis – os quais nem sempre são ditos, mas são percebidos por quem sofre a rejeição, a exemplo do humor –, têm sido dirigidos a esta população, principalmente quando se considera o contexto do mundo do trabalho.
Violências sutis direcionadas a pessoas trans, especialmente no que se refere às microagressões (comentários que podem até passar como inofensivos por serem naturalizados), têm sido pouco exploradas na literatura que discorre sobre as experiências de pessoas trans nas organizações (DeSouza et al., 2017; Nadal et al., 2016). Assim, com fins de minimizar esta lacuna, este estudo teve por objetivo o de analisar as representações discursivas das microagressões sofridas por pessoas trans no contexto social e no mundo do trabalho.
Além de mobilizar conceitos para falar sobre violências sofridas por pessoas trans, o estudo adota ainda dois outros conceitos fundamentais: micro agressão e ostracismo. O ostracismo revela o preconceito transfóbico que funciona silenciosamente, afetando as pessoas e as organizações em muitos níveis. Por sua vez, as microagressões “são formas sutis de discriminação, muitas vezes inconscientes ou não intencionais, que comunicam mensagens hostis ou depreciativas, particularmente para e sobre grupos sociais historicamente marginalizados” (Nadal et al., 2016, p. 1, tradução nossa).
O estudo parte da narrativa de vida de uma pessoa trans e das suas experiências no contexto social e no mundo do trabalho. Para a interpretação de dados, foi utilizada a Análise de Discurso Crítica, não só como teoria, mas como método também (Fairclough (2015). As categorias de análise que sustentaram o estudo relacionadas ao significado representacional foram a de representações de eventos e de atores sociais e a de transitividade. Já em relação às categorias de análise ligadas ao significado identificacional mostraram-se mais apropriadas a avaliação, a metáfora e a modalidade.
As análises organizaram-se segundo três eixos. No primeiro (contexto social) evidenciou-se as microagressões por atores que estão envolvidos nas interações sociais cotidianas com as pessoas trans. No segundo eixo (Família, Escola, Igreja e Estado) demonstrou-se que instituições de poder que deveriam amparar, agem produzindo e propagando contradições, que excluem essas pessoas por suas diferenças. No último eixo (mundo do trabalho e o próprio Estado) tornou-se patente o dever na promoção de acesso ao trabalho e oportunidades mais igualitárias.
Conclui-se que não há espaço para a diversidade e a diferença, e sim para a homogeneização de corpos e mentes. Esta violenta forma de se operar no mundo do trabalho provém de ordens do discurso baseadas em redes de práticas hétero-cis-normativas, patriarcais, sexistas, misóginas, racistas, classistas, entre outras formas de segregação. Essas ordens discursivas foram materializadas nas representações das microagressões sofridas pelas pessoas trans e acompanhadas por sentimentos de dor e empoderamento ao questionar tudo que obstaculiza o ser, o identificar e o representar no mundo do trabalho.
DeSouza, E. R., Wesselmann, E. D., & Ispas, D. (2017). Workplace Discrimination against Sexual Minorities: Subtle and not-so-subtle. Canadian Journal of Administrative Sciences, 34(2), 121-132. doi:10.1002/cjas.1438. Fairclough, N. (2015). Discurso e Mudança Social. Brasília: Editora Universidade de Brasília. Nadal, K. L., Whitman, C. N., Davis, L. S., Erazo, T., & Davidoff, K. C. (2016). Microaggressions toward lesbian, gay, bisexual, transgender, queer, and genderqueer people: A review of the literature. The Journal of Sex Research, 53(4-5), 488-508. doi:10.1080/00224499.2016.1142495