Resumo

Título do Artigo

ESTRANHAMENTOS E ENTRANHAMENTOS NAS ENCRUZILHADAS DA VIDA SOCIAL ORGANIZADA DE UM TERREIRO DE CANDOMBLÉ
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Palavras Chave

Encruzilhada
Terreiro de Candomblé
Organizações não convencionais

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Organizações Não-Convencionais

Autores

Nome
1 - Júlio Marcio Alves Gomes
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - FACE - CEPEAD
2 - Luiz Alex Silva Saraiva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas

Reumo

Neste trabalho buscamos contribuir para a compreensão de organizações não convencionais considerando um Terreiro de Candomblé, uma organização lastreada na cultura de matriz africana e, portanto, atravessada por elementos como a ancestralidade, a religiosidade e a racialidade, para ficar em alguns exemplos. Nossa jornada para produzir este texto percorreu os caminhos de uma etnografia colaborativa, ao mesmo tempo coletiva, mas com momentos de atuação individual na produção de dados junto ao Terreiro de Candomblé.
A partir do conceito em consolidação de vida social organizada, que se refere a como "os distintos grupos sociais põem em prática a organização de suas múltiplas formas de existência em sociedade” (Saraiva, 2020, p. 13), buscamos contribuir para a compreensão de organizações não convencionais considerando um Terreiro de Candomblé e suas especificidades baseadas na cultura de matriz africana, adequada, por princípio para a observação de uma organização não convencional.
O embasamento teórico desse estudo é feito na confluência de três grandes eixos: textos que tratam da etnografia enquanto possibilidade teórico-metodológica de produção de dados nos estudos organizacionais; que tratam da diáspora africana e como ela significou estranhamentos étnicos e a necessidade de recriar as tradições africanas no Brasil; e que tratam da encruzilhada como referência para entender as práticas do Candomblé, uma vez que reside no cruzamento a potência do conhecimento africano, o que se estende às manifestações religiosas, culturais e sociais.
Este estudo se baseia em um estudo etnográfico colaborativo que oscila da redação na terceira pessoa do plural, com partes do texto redigidas conjuntamente pelo orientado e pelo orientador, como nos denominaremos, no espírito da etnografia colaborativa, à redação na primeira pessoa do singular, nas partes do texto em que o diário de campo assume o protagonismo do orientado, autor que esteve em contato direto com o Povo de Santo. Os dados foram produzidos ao longo de seis meses, entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022, em cinco visitas presenciais.
Apresentamos três momentos da relação com o Terreiro de Candomblé estudado. No primeiro deles, a chegada, registramos os momentos de iniciais no Terreiro, e seus diversos desajustes como a inadequação das roupas, o banho nu como parte do início das atividades, a espera “para o corpo esfriar”. No segundo momento, em que se conhece a Família de Santo, o orientado se depara com uma organização social que sustenta as práticas da organização; No terceiro, a imprevisibilidade ratifica que não são os parâmetros modernos que regem as atividades do Terreiro de Candomblé etnografado.
Em conjunto, tais elementos revelam que, a partir de uma cultura de matriz africana, diferenças mais ou menos evidentes se mostram, em parte por conta de uma perspectiva familiar que se atém a laços afetivo-espirituais como marcadores da aderência a uma dinâmica do imprevisto. O que eventualmente parece uma “desorganização” aos olhos do que é hegemônico na Administração se revela apenas como outra forma de pensar e levar a cabo o organizacional, um processo que pesquisadores dos Estudos Organizacionais há pouco tempo começaram a perceber como potencial de pesquisa.
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