Resumo

A Teoria da Aprendizagem Transformadora, de Mezirow, apresenta propostas teóricas e metodológicas capazes de fomentar processos de desenvolvimento humano nas organizações, por meio da modificação de premissas que sustentam dimensões individuais e coletivas da vida em sociedade. Um dos pensadores que influenciaram a construção dessa teoria foi Paulo Freire, que também influenciou Augusto Boal na criação do Teatro do Oprimido. Como instrumento de modificação da realidade, o Teatro do Oprimido também pode ser utilizado em organizações para ações de aprendizagem e desenvolvimento.

Este trabalho tem como propósito problematizar a articulação entre a Teoria da Aprendizagem Transformadora e a utilização do Teatro do Oprimido em Organizações. O objetivo é tecer conexões entre ambos os campos, a partir de uma revisão de literatura. É feita uma análise das conexões estabelecidas entre os estudos organizacionais que trabalham com o Teatro do Oprimido e a Teoria da Aprendizagem Transformadora. Por fim, apresentam-se as contribuições possíveis dessa aliança, para a construção de uma práxis que leve em conta a reflexão crítica e a ação transformadora.

A Teoria da Aprendizagem Transformadora procura entender como se dão os processos de aprendizagem e como eles são capazes de promover transformações epistêmicas e ontológicas na vida das pessoas (MEZIROW; TAYLOR et al., 2009). Utilizada em organizações para desenvolver reflexão crítica, está mais interessada na proposição de problemas do que em soluções rápidas (LEMOS; BRUNSTEIN, 2023). O Teatro do Oprimido, por sua vez, ao colocar o corpo em ato, busca transformar realidades opressoras por uma ação transformadora, a partir das realidades cotidianas (ROMANO, 2019).

A revisão da literatura foi feita nas bases de dados Web of Science e Scopus, a partir do termo “Theatre of the Oppressed”. Aplicados os filtros para a área de Administração de Empresas, restaram oito artigos, que foram analisados individualmente; destes, apenas um efetivamente aplicou técnicas de Teatro do Oprimido relacionando-as ao mundo do trabalho e outro defendeu a possibilidade dessa utilização. Em revistas especializadas em Aprendizagem Transformadora, não foi encontrado nenhum trabalho que utilizasse Teatro do Oprimido voltado às realidades organizacionais.

Os trabalhos apresentados na revisão de literatura não relacionam o Teatro do Oprimido com a Teoria da Aprendizagem Transformadora. O Teatro do Oprimido é utilizado para diversas finalidades, destacando-se processos de conscientização social e problematização de dilemas da atualidade; contudo, em âmbito organizacional, sua utilização é ínfima. A Teoria da Aprendizagem Transformadora, por sua vez, encontra diversas utilizações no ambiente de trabalho, mas sofre críticas por tratar as questões prioritariamente no âmbito da transformação individual.

BOAL, A. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. São Paulo: Editora 34, 2019. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 82a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2022. GUATTARI, F. As três ecologias. 21a ed. Campinas: Papirus, 2012b. MEZIROW, J.; TAYLOR, E. W.; AND ASSOCIATES. Transformative Learning in Practice: Insights from Community, Workplace, and Higher Education. Hoboken: John Wiley & Sons, 2009. ROMANO, A. How to embed performative “Theatre of the Oppressed” in Higher Education systems. Education in the North, v. 26, n. 1, p. 26–41, 2019.