Resumo

O turismo não é igualmente acessível para pessoas com e sem deficiência, o que pode fazer com que um importante direito social seja negado para os indivíduos com deficiência. Para Saraiva e Eusébio (2020), é preciso que haja condições que promovam a equidade para todas as pessoas, sendo necessário criar experiências turísticas inclusivas numa sociedade que espera a promoção da igualdade e a funcionalidade de toda a sua estrutura social. Isto posto, é importante compreender as mais diversas vivências do consumidor, visto que a experiência pode influenciar de modo positivo as suas decisões.

Este artigo pretende responder o seguinte problema de pesquisa: como se configura a experiência turística de famílias com pessoas autistas? Para tanto, têm-se as perguntas norteadoras da pesquisa: a) Quais as expectativas da família de pessoas autistas antes e depois da experiência turística? b) Que emoções são ativadas na família de pessoas autistas durante a experiência turística? c) Quais os significados da experiência turística de famílias com pessoas autistas? d) Que vivências fazem a família de pessoas autistas lembrarem da experiência turística?

Sedgley, Pritchard, Morgan e Hanna (2017) examinaram as experiências emocionais de mães britânicas em férias com filhos diagnosticados com TEA. Embora todas as participantes da pesquisa tenham identificado benefícios em tirar férias, elas equilibram isso com a interrupção da rotina e a exposição a ambientes estimulantes sensoriais, que tornam as férias uma experiência desafiadora para elas e seus filhos. Outros estudos como os de Sedgley, Pritchard, Morgan e Hanna (2017), Freund et al. (2019), Dempsey et al. (2021), dentre outros, serviram de fundamentação para esta pesquisa.

Foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa. Para compreender as experiências turísticas de famílias com pessoas autistas, foi adotada a fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty (1999). Trata-se de uma corrente filosófica que está fortemente direcionada a investigações sobre a essência da natureza do sujeito, no sentido de esclarecer, de modo natural, como ele é e o que ele percebe. Foram realizadas entrevistas episódicas com mães de filhos com transtorno do espectro autista (TEA) que têm o hábito de viajar a lazer. A análise de discurso adotada foi a pragmática (GODOI, 2005).

As mães entrevistadas relataram emoções tanto positivas, quanto negativas sentidas durante as suas experiências turísticas. As emoções e sentimentos positivos identificadas que são mais comuns nessas mulheres são felicidade, gratidão, surpresa, vitória, alegria, satisfação e alívio. Já as emoções e sentimentos negativos identificados foram apreensão, nervosismo, estresse, ansiedade, frustração, impotência, incapacidade, insuficiência e fracasso. Os significados das experiências estão relacionados a quebra de barreira, conquista, evolução, aprendizado, felicidade, gratidão e lembranças felizes.

Apesar das experiências turísticas serem associadas às boas expectativas e vivências, viu-se que no contexto das mães de filhos com TEA, as expectativas tendem a serem ruins e carregadas de incertezas. As expectativas dessas famílias com pessoas atípicas são diferentes das expectativas das famílias com pessoas típicas, podendo gerar um processo decisório incomum. Tal fato está relacionado com a incerteza de como o filho irá se comportar fora da sua rotina, mesmo para aqueles que têm acompanhamento terapêutico frequente.

AGOVINO, M.; CASACCIA, M.; GAROFALO, A. MARCHESANO, K. Tourism and disability in Italy. Limits and opportunities. Tourism management perspectives, v. 23, p. 58-67, 2017. DEMPSEY, Rhona et al. Air travel experiences of autistic children/young people. Annals of Tourism Research Empirical Insights, v. 2, n. 2, p. 100026, 2021. FREUND, D. et al. Enhancing the hospitality customer experience of families with children on the autism spectrum disorder. International Journal of Tourism Research, v. 21, n. 5, p. 606-614, 2019.