Resumo

Título do Artigo

A miséria humana na administração: a instrumentalização do ser nas teorias organizacionais
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Palavras Chave

homo miserabilis
Ivan Illich
homo economicus

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Organizações Não-Convencionais

Autores

Nome
1 - Lucas Casagrande
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
2 - Bárbara Eduarda Nóbrega Bastos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Departamento de Ciências Administrativas (DCA)
3 - Tiago Franca Barreto
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE) - FCAP

Reumo

Autores de primeira ordem dos Estudos Organizacionais, como Prestes Motta, argumentaram que distintas teorias administrativas produzem distintas ontologias. Neste ensaio argumentamos que as ontologias apresentadas pela administração não são variações substanciais, mas sim pequenas mudanças de visões do ser que podem todas serem compreendidas como homo miserabilis.
Neste ensaio buscamos investigar os pressupostos de ser nas teorias administrativas, demonstrando um traço em comum em todas elas: partem do fim da subsistência e do vernáculo em proveito da sociedade de mercado. Nessa transição, se produz um ser que pode ser reduzido a meras necessidades, já que não se trata mais de um ser autônomo e sim de um produtor-consumidor especializado.
Utiliza-se como base teórica as postulações de Ivan Illich, em especial o texto Needs (1992), Health (2003), La reinvidicación de la casa (1998) e Sociedade sem escolas (2019). Nestes textos, Ivan Illich promove um percurso teórico para construção do ser moderno que pode ser reduzido ao papel de consumidor de bens e serviços, o homo miserabilis. Se contrapõe tal proposição teórica com os teóricos da administração que anunciam visões de ser humano tal como homo economicus, homo socialis, homo complexus, homem funcional e homem parentético.
As ideias de homo economicus, bem como as demais, são na verdade, facetas de uma mesma visão de ser humano, que pressupõe a ideia de um ser instrumentalizado pela relação de produção e consumo. Para isso, é necessário tratar o ser humano como meio para um fim que requer manutenção - ou seja, tem necessidades. Dessa forma, requer-se a propagação dessa forma de vida, por meio da escola, e a manutenção desse ser, por meio da instituição médica.
A administração - e até mesmo boa parte dos estudos críticos organizacionais - incorporou uma visão de ser humano que o reduz a uma condição de um portador de um conjunto de necessidades. Isso é pressuposto em diversas teorias tradicionais, como delineamos, como em Taylor, Elton Mayo, Maslow, Simon, Parsons, Burns & Stalker, dentre tantos outros notórios do campo de Estudos Organizacionais. Na medida em que refletimos sobre o pressuposto ontológico dessas visões, percebemos que todas elas guardam entre si uma similaridade apesar de todas diferenças: a do que Illich chama de homo miserabilis.
Illich, Ivan (1975). Medical nemesis: the expropriation of health. London: Marion Boyars Books. llich, Ivan (1995). Death undefeated: from medicine to medicalisation to systematisation. British Medical Journal, 311(7021), 1652-1653. Illich, I. (2005). Health. In.: Cayley, D. (2005). The rivers north of the future. House of Anansi. Illich, I. (1992). Needs. In: SACHS, Wolfgang (Org.). The development dictionary: a guide to knowledge as power. New York: Zed books. Illich, I. (1998). La reivindicación de la casa. Archipiélago: Cuadernos de crítica de la cultura, (34), 47-50.