Resumo

A inclusão de pessoas com deficiência ainda constitui um desafio para o mercado de trabalho, embora tenham ocorrido avanços nas últimas décadas, decorrentes de uma legislação favorável. Um dos obstáculos para esse processo consiste no preconceito de empregadores em relação à capacidade de pessoas com deficiência, o qual é manifestado na manutenção de obstáculos que dificultam ou mesmo impedem que esses trabalhadores desempenhem suas atividades de maneira satisfatória. Assim, muitas ações organizacionais estão disfarçadas por discursos que “justificam” a exclusão de pessoas com deficiência.

O relato de pesquisa apresentado discute, na perspectiva e na prática de profissionais de Recursos Humanos, ações organizacionais relativas à inclusão de pessoas com deficiência no trabalho, em especial, àquelas direcionadas a pessoas que adquiriram deficiências ou outras sequelas devido a acidentes laborais. Entende-se que a (re)inserção de trabalhadores com deficiência ainda demanda a elaboração e a implantação de estratégias mais efetivas diante de demandas sociais e organizacionais por iniciativas que assegurem uma real inclusão no trabalho.

Pesquisas indicam que a garantia de acessibilidade, a realização de processos de socialização adequados, a sensibilização de gestores/colegas e o alinhamento entre o desenho do cargo e o perfil de competências são fatores que possibilitam que pessoas com deficiência correspondam às expectativas de desempenho no trabalho. Entende-se, portanto, que as empresas precisam se dispor a transformar as próprias práticas de gestão e a empreender mudanças nas concepções de deficiência e as relações socioprofissionais, a fim de que a admissão de pessoas com deficiência vá além da imposição legal.

Numa perspectiva qualitativa, foram feitas entrevistas individuais abertas, via programas de comunicação por vídeo, com 21 profissionais atuantes na área de Recursos Humanos. As entrevistas foram gravadas e transcritas, tendo sido realizada análise de conteúdo temática do material. A maioria dos participantes tinha formação de nível superior em Psicologia e Administração de Empresas, sendo acessados, principalmente, por meio de indicações e contatos individualizados via telefone, e-mail e/ou pela rede social LinkedIn. O estudo fez parte de programa aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa.

Grande parte dos entrevistados relatou empenho na elaboração e implementação de práticas de reinserção que fossem inclusivas para pessoas já contratadas com alguma deficiência ou que a adquiriram devido a acidentes laborais. Nesses casos, observa-se que as ações podem abarcar desde a adequação do ambiente e dos cargos que os trabalhadores ocupavam até realocações em cargos distintos ou desenvolvimento de postos de trabalho personalizados. Entretanto, observa-se que a adoção de recursos diversos para possibilitar essa (re)inserção no trabalho ainda não se tornou a regra no meio organizacional.

O acolhimento da organização (como um todo), expresso, principalmente, nas práticas de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas, bem como na disponibilidade organizacional para realizar ajustes (quando necessários) nas estruturas e condições de trabalho constituem uma alternativa viável para a reinserção de pessoas com deficiência adquirida. A receptividade organizacional às pessoas reabilitadas se manifesta, assim, em ações objetivas e simbólicas, como as adequações entre atividades laborais e possibilidades dos trabalhadores a serem reinseridos, alinhando expectativas de ambas as partes.

Carvalho-Freitas, M. N., & Santos, J. C. (2023). Capacitismo e Inclusão: Contribuições teórico-práticas da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Vetor. Wong, J., Kallish, N., Crown, D., Capraro, P., Trierweiler, R., Wafford, Q. E., Tiema-Benson, L., Hassan, S., Engel, E., Tamayo, T., & Heinemann, A. W. (2021). Job accommodations, return to work and job retention of people with physical disabilities: A systematic review. Journal of Occupational Rehabilitation, 31, 474-490. https://doi.org/10.1007/s10926-020-09954-3