Resumo

A moradia universitária é um equipamento social que visa oferecer habitação digna ao estudante em situação de vulnerabilidade socioeconômica, garantir sua permanência no ensino superior e proporcionar igualdade de oportunidades dentro da comunidade acadêmica.Esses equipamentos exigem da instituição a implementação de uma gestão sensível à condição dos estudantes e capaz de lidar com situações relativas à manutenção do espaço físico, relacionamentos interpessoais e aspectos de saúde física e mental dos residentes (Barreto et al., 2020).

A estrutura organizacional da Universidades é complexa e ainda não teve suas nuances de gestão integralmente mapeadas, exigindo esforços da comunidade científica no intuito de se compreender os seus processos de gestão, suas forças e fraquezas (Oliveira, 2022). A compreensão dos mecanismos de gestão oferece a possibilidade de uma maior participação social nos processos de acompanhamento e avaliação de políticas públicas, especialmente nas áreas de prestação de serviços diretos à população (Brasil, 2014), como é o caso da gestão da moradia universitária pública federal.

A literatura brasileira sobre o tema oferece uma visão fragmentada, composta de inúmeros estudos de caso, apontando para uma lacuna acerca da situação nacional sobre os estilos de liderança exercidos por gestores de moradias universitárias. Essa investigação pode contribuir para expor, de forma científica, os estilos empregados pelos gestores das moradias estudantis brasileiras, na condução das dinâmicas sociais em um contexto marcado por baixos investimentos em recursos materiais e humanos.

Considerando que essa gestão está localizada no nível operacional da instituição e serve a uma pequena parcela da população discente da universidade, que ainda ocupa posição periférica dentro da comunidade acadêmica e ainda não tem garantidos os seus espaços de participação (Gomes et al., 2021), mais relevante se torna a investigação dos estilos de gestão utilizados nesses espaços. Diante do exposto, o presente estudo buscou caracterizar os estilos de gestão empregados nas moradias universitárias públicas brasileiras.

Foram identificados dois eixos Processo Decisório e Responsividade. O primeiro remete ao grau de participação dos estudantes no processo de tomada de decisão e engloba as categorias: a) Participativo - constroem decisões em conjunto com os estudantes; b) Diretivo - decisões são tomadas pela gestão e sua equipe. O eixo Responsividade expressa o grau de disponibilidade da gestão em escutar demandas e o tratamento dirigido a elas, abrangendo os estilos: a) Engajado - ouve e atua na solução das demandas; b) Protocolar - ouve e protocola as demandas; c) Inerte - retém as demandas dentro da equipe.

A caracterização dos principais estilos de gestão empregados nas moradias universitárias públicas brasileiras, apresentados nesse estudo, oferecem parâmetros para que pesquisas futuras avaliem os impactos de cada estilo na permanência e no desenvolvimento pessoal e profissional dos residentes universitários. Tais estudos podem comparar os modelos de gestão identificados com outras variáveis como o bem-estar estudantil e o suporte social percebido auxiliando na compreensão dos reflexos da gestão na construção de um ambiente de moradia universitária favorável ao desenvolvimento estudantil.