Resumo

Mesmo com as grandes conquistas ao decorrer da história, as mulheres atualmente ainda lutam contra estigmas de menos competentes, recebendo socialmente a responsabilidade pelos filhos e os serviços domésticos e, mesmo quando ocupam postos semelhantes aos homens, sofrem com precarização, insegurança e diferenças em termos de remuneração (HIRATA, 2002). Porém, há ainda espaços sociais em que a disputa se desenha com força e tenacidade, mesmo quando o ambiente se define como igualitário, plural e inclusivo, como a universidade e a academia enquanto lócus de produção de saber.

Analisar as motivações para ingresso em um mestrado e as dificuldades para concluí-lo dentro da perspectiva de gênero em um programa de pós-graduação stricto sensu, em um campus da Universidade Federal Pernambuco localizado no interior do estado. Também foram estudadas as questões de cota, bolsa de incentivo entre mestrandos em mestrandas da UFPE, além de ser feita uma análise sobre a empregabilidade e questão salarial dos discentes.

O estudo apresenta como embasamento teórico o gênero (SCOTT, 1995; MARTIN, 2006; BUTLER, 1998; 2021) e a mulher enquanto estudante de pós-graduação stricto sensu no Brasil (LETA, 2003; DAMKE, CASSOL, GOMES, 2019), destacando as questões envolvidas neste cenário ao longo da história.

A abordagem utilizada neste estudo é a mista, que envolveu a abordagem quantitativa do tipo descritiva, que descreve as características da população, acontecimentos e suas possíveis relações (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). E da abordagem qualitativa básica que permite analisar e trazer significado as questões apresentadas (MERRIAN, 1998). O lócus da pesquisa foi o campus Acadêmico do Agreste, localizado na cidade de Caruaru e vinculado à Universidade Federal de Pernambuco. O foco se manteve nos discentes e egressos do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Gestão, Inovação e Consumo.

Dos participantes da pesquisa, observou-se um quantitativo de 25 mulheres e 14 homens, o que representa respectivamente 58,13% e 73,68% do total de discentes (62). Identificou-se que as mulheres são maioria no programa, a formação em Administração é predominante entre os discentes, assim como o baixo índice de maternidade. Diferenças salariais entre homens e mulheres são notadas, assim como diferentes dificuldades e motivações atribuídos a cada gênero durante o ingresso e curso da pós-graduação.

Mesmo com o uso de políticas afirmativas são poucas ou quase raras as mulheres negras no programa. As principais motivações das mulheres para ingressar no mestrado é a melhoria do currículo e a busca por aumento salarial. Já os homens possuem uma preocupação maior em se capacitarem e aperfeiçoarem profissionalmente. Sobre as dificuldades, as mulheres destacam a dificuldade de conciliar vida familiar, emprego, estudos e a questão da saúde mental (ansiedade). Foi percebido que homens e mulheres possuem diferença salarial, igualada pelo espírito empreendedor feminino presente nas discentes.

ARAÚJO, C.; PICANÇO, F.; CANO, I.; VEIGA, A. Evolução das percepções de gênero, trabalho e família no Brasil: 2003-2016. In: ARAUJO, C et al. Gênero, família e trabalho no Brasil do século XXI – mudanças e permanências. 1. ed. Rio de Janeiro: Gramma, 2018. BEZERRA, N. Mulher e Universidade: a longa e difícil luta contra a invisibilidade. Conferência Internacional sobre os Sete Saberes, Fortaleza. Anais...Fortaleza: UECE, 2010.