Resumo

Título do Artigo

Blocos afro de carnaval em Belo Horizonte: da segregação racial ao fazer-cidade
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Palavras Chave

Segregação racial
Cultura
Resistência

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Organizações Não-Convencionais

Autores

Nome
1 - Luís Fernando Silva Andrade
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO (UNESP) - Faculdade de Engenharia e Ciências de Guaratinguetá (FEG)
2 - Ana Flávia Rezende
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (UFOP) - ICSA
3 - Luiz Alex Silva Saraiva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas

Reumo

A utopia que anima os blocos afro de carnaval, assim como outras organizações de resistência negra (Siqueira, 1997) é o de uma cidade marcada pela diferença e que não apenas permite, mas fomente existências diversas e todas as possibilidades delas advindas. Esse movimento de fazer-cidade se dá em cidade planejada, marcada pela modernidade e que historicamente exclui o elemento negro de suas narrativas e lugares, A atuação dos blocos afro, desse modo, vai em direção contrária ao apagamento das diferenças e abstração trazidas pela cidade planejada e permite vislumbrar uma cidade sonhada.
O objetivo desde artigo é compreender como o Kandandu, enquanto expressão do direito dos negros à cidade, se consolidou enquanto marco do Carnaval de Belo Horizonte e como um lugar de valorização e inclusão da negritude. O Kandandu é o evento que agrega os blocos afro de carnaval de Belo Horizonte e abre as festividades de carnaval da cidade.
Realizamos uma contextualização da capital mineira, destacando os aspectos de segregação socioespacial que remontam a sua origem, assim como trazemos um arcabouço teórico que comtempla dimensões de espaço, segregação, cultura e política. Os conceitos de direito à cidade e fazer-cidade, de Lefebvre e Agier, respectivamente, são centrais na análise da atuação dos blocos afro.
Recorremos à etnografia, entrevistas e à pesquisa documental para compreender o processo de constituição do Kandandu, a partir de dois blocos afro, Angola Janga e Magia Negra.
Os resultados reforçam a importância dos blocos afro como agentes de transformação social, valorização da negritude e luta pelo direito à cidade. Eles representam um campo de possibilidades que desafia as estruturas de segregação e apagamento cultural, oferecendo um horizonte de diversidade e inclusão para a capital mineira, a abertura do carnaval de rua de Belo Horizonte, o Kandandu, é um caso exemplar desse fazer-cidade.
A utopia que impulsiona os blocos afro representa um ideal de cidade que valoriza a cultura e corpos negros e promove a participação ativa dos negros na construção coletiva do espaço urbano. O direito à cidade, conforme discutido por Harvey (2013, 2014), exige ação coletiva para remodelar a cidade e, ao fazê-lo, remodelar a nós mesmos. Nesse sentido, a atuação dos blocos afro no Carnaval de Belo Horizonte reivindica o direito dos negros à cidade, promovendo a igualdade racial, valorizando a cultura e estética negra e ocupando os espaços públicos com corpos dissidentes.
Agier, M. (2015). Do direito à cidade ao fazer-cidade. O antropólogo, a margem e o centro. Mana, 21(3), 483-498. https://doi.org/10.1590/0104-93132015v21n3p483 Fanon, F. (2018). Racismo e Cultura. Revista Convergência Crítica, 13, 78-90. https://doi.org/10.22409/rcc.v1i13.38512 Lefebvre, H. (2001). O direito à cidade. São Paulo: Centauro. Rezende, A. F., & Andrade, L. F. S. (2022). Direito do Negro à Cidade: de uma Formação Socioespacial Racista à Utopia Lefebvriana. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 14(e20210438), 1-14. https://doi.org/10.1590/2175-3369.014.e20210438