Resumo

Nos últimos anos, diversas regiões do Brasil estão investindo na produção de vinhos finos tipicamente brasileiros. Uma dessas regiões é o estado do Paraná, que, apesar de ter uma produção singela, representa um terroir novo, vinhos premiados e projetos de expansão à vitivinicultura. Diante disso, surge a necessidade de estimular o desempenho dessa cadeia. Assim, a análise dos recursos presentes nas vinícolas, e dos transacionados entre os agentes, pode trazer contribuições substanciais para o potencial competitivo dessas empresas, frente ao mercado do vinho fino.

Por um lado, a cadeia de vinhos do Paraná está em desenvolvimento, com desafios relacionados ao clima, à tributação e à concorrência de vinhos importados. Por outro lado, torna-se necessário desenvolver recursos estratégicos, para criação de estratégias competitivas eficazes. A análise dos tipos de recursos pode auxiliar na obtenção de competitividade para a cadeia. Assim, o objetivo do estudo é compreender como se dá o potencial competitivo dos recursos humanos, físicos, organizacionais e financeiros presentes entre os segmentos de produção e processamento na cadeia de vinhos finos do Paraná.

A fundamentação teórica deste artigo se ampara na Visão Baseada em Recursos (VBR), e, também, nos modelos de Barney (1991) e Peteraf (1993), visando entender as fontes de vantagem competitiva das organizações, a partir da análise dos recursos e capacidades existentes no interior da firma. Ademais, o modelo VRIO de Barney e Hesterly (2017) foi utilizado como uma ferramenta para auxiliar na análise e identificação dos recursos estratégicos.

Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e com recorte transversal nos anos de 2022 e 2023. A coleta de dados dispõe de fontes primárias (entrevistas semiestruturadas) e secundárias (documentos gerais sobre o setor vitivinícola paranaense). Para compor a pesquisa, foram entrevistados gestores de nove vinícolas de vinhos finos, instaladas no Paraná, alguns de seus fornecedores e um dos representantes da Associação Paranaense de Vitivinicultores (VINOPAR). Posteriormente, os dados foram analisados por meio da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (2007).

A análise revelou que as vinícolas possuem diversos recursos estratégicos. Entre eles, destacam-se os recursos humanos (mão de obra, bom relacionamento, experiência dos gestores e funcionários), físicos (tecnologia, estrutura, localização, acesso a matéria prima), organizacionais (cultura e reputação) e financeiros (capacidade de investimento, financiamento, capital de giro, fluxo de caixa e lucro). Ademais, com o modelo VRIO, avaliou-se a organização desses recursos em termos de estrutura organizacional, sistemas de controle e de remuneração adotados nas vinícolas investigadas.

A identificação dos recursos estratégicos, no setor vitivinícola, apresentou condições essenciais para geração de valor e competitividade, possibilitando traçar relações com path dependence, heterogeneidade e imobilidade dos recursos identificados. Nos recursos humanos, destaca-se a ambiguidade causal e complexidade social. Nos recursos físicos, destaca-se o pioneirismo atrelado à localização das vinícolas. Nos recursos organizacionais, evidencia-se a incapacidade de imitação, por causa da cultura e reputação. Nos recursos financeiros, ressalta-se a capacidade de impor barreiras à competição.

Bardin, L. (2007). Análise de conteúdo (70ª ed.). Edições. Barney, J. (1991). Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, 17(01), 99-120. Barney, J. B. & Hesterly, W. S. (2017). Administração Estratégica e Vantagem Competitiva: conceitos e casos (5ª ed.). Pearson Education do Brasil. Mello, L. M. R. & Machado, C. A. E. (2022). Vitivinicultura brasileira: panorama 2021. Comunicado Técnico, EMBRAPA, 1-17. Peteraf, M. A. (1993). The cornerstones of competitive advantage: A resource-based view. Strategic Management Journal, 14(3), 179–191.