Resumo

Com a crise econômica e social na Venezuela, cidadãos estão migrando para o Brasil através da fronteira com o estado de Roraima. Surge como uma estratégia de sobrevivência, o desempenho de atividades empresariais. Para Akbar (2019) o empreendedorismo é uma das alternativas para os imigrantes, pois é visto como uma forma de inclusão nas sociedades receptoras e de crescimento econômico pessoal. A literatura acadêmica nacional aborda principalmente as etnias asiáticas, latino-americanas, europeias e estadunidenses, contudo o Brasil vem sendo o destino de cidadãos latinos de países em crise.

Com a chegada de imigrantes no Brasil, houve um considerável aumento no número de pequenos negócios. Segundo o Ministério da Economia, Roraima registrou o maior crescimento percentual de empresas abertas em 2022. No entanto, durante a pandemia, os empreendedores enfrentaram desafios em compreender como ela afetaria seus negócios e quais medidas poderiam ser implementadas, gerando preocupações adicionais. Assim a presente pesquisa tem como objetivo identificar os desafios, limitações e potencialidades do empreendedorismo venezuelano na fronteira entre Brasil e Venezuela.

Estudos mostram que empreendedores étnicos tendem a manter relacionamentos com pessoas da mesma etnia, permitindo que levem sua cultura para outros lugares do mundo. De acordo com Rahman et al. (2021), manter uma carteira de clientes composta por pessoas do mesmo país de origem pode trazer inovação, além de oferecer suporte para lidar com a escassez e a falta de reconhecimento social de seus empreendimentos (Idriss, 2022). Por outro lado, há empreendedores que optam por oferecer produtos inéditos no mercado, direcionados a pessoas que ainda não conhecem esses produtos (Zhou, 2004).

A pesquisa se deu por meio de entrevista semiestruturada com 13 perguntas em 4 categorias: idealização, dificuldades, desenvolvimento e perspectivas futuras, adaptadas da literatura recente. Foram entrevistados 8 empreendedores por meio da amostragem snowball sampling. As entrevistas foram conduzidas no local de trabalho dos empreendedores na cidade de Boa Vista-RR, no período de 9 a 19 de maio de 2023, totalizando 4 horas e 22 minutos de gravação. Após a gravação as entrevistas foram transcritas e traduzidas para português para análise qualitativa.

Na dimensão idealização a maioria dos entrevistados relatou ter experiência prévia em empreender, e forte influência familiar o que os levou a chegar ao Brasil e iniciar seus próprios negócios. Quanto as dificuldades relacionadas à pandemia muitos apontam como o melhor período para os negócios. Como desafios destacam aspectos referente a legislação, problemas financeiros e familiarização do mercado com produtos venezuelanos. Muitos relatam satisfação e reconhecimento. Já quanto a persistência muitos apontam o desejo de buscar o bem-estar da família como um dos principais fatores.

Observa-se que nenhum dos entrevistados pretende retornar à Venezuela, pois encontraram oportunidades e conquistaram um espaço no Brasil que, em sua visão, não teriam alcançado se tivessem permanecido em seu país de origem. Além disso, foi constatado que a maioria dos empreendimentos étnicos em Boa Vista está no ramo alimentício, o que motivou a investigação dessas informações. Dessa forma, surgem como questões para futuras pesquisas a compreensão da integração do empreendedor étnico no mercado, bem como os fatores que motivam sua permanência na localidade e a escolha do setor de atuação.

Albornoz-Arias, N., & Santafé-Rojas, A. K. (2023). Atributos empreendedores em migrantes venezuelanos que se estabeleceram na Colômbia. Revista de Administração de Empresas, 63. Castro, B. L. G., Pontelli, G. E., Nunes, A. F. P., Kneipp, J. M., & Costa, V. M. F. (2021). Emprendimiento y coronavirus: impactos, estrategias y oportunidades frente a la crisis global. Estudios Gerenciales, 37(158), 49-60. Gomes, L. A. S., & Bourlegat, C. A. L. (2020). Empreendedorismo étnico e de autoemprego em um olhar para as comunidades de imigrantes. Interações (Campo Grande), 21, 317-330.