Resumo

Neste artigo, defendemos que a reutilização de dados qualitativos de pesquisas empíricas oportuniza o alcance de novos resultados que desafiam os pressupostos subjacentes à literatura existente. Ao assumirmos o reuso dos dados (Corti et al., 2004), observamos que essa maneira de se pensar a análise qualitativa de trabalhos empíricos já finalizados possibilitou o surgimento de um novo desenho de pesquisa para compreensão de novas questões, possibilitando mostrar as interpretações dos músicos entrevistados sobre o contexto que estavam vivendo.

Ao considerarmos a discussão sobre a reutilização de dados qualitativos de pesquisas empíricas antigas, perseguimos o objetivo de compreender como o reuso de dados qualitativos pode ser útil na geração de novos insights. Para tanto, buscamos estabelecer um desenho de pesquisa que pudesse alcançar novos resultados a partir de dados antigos, desafiando os pressupostos que existiam até então.

Para a defesa de nossos argumentos, limitamos aos dados coletados dentro de uma abordagem qualitativa (Denzin & Lincoln, 2005), seguindo as recomendações de Corti et al. (2004) quanto ao reuso do corpus. Utilizamos os dados de uma pesquisa empírica, originalmente destinada a estudar o mercado da música na cidade de Uberlândia, para compreender uma nova questão: o contexto extremo. Quando na coleta dos dados, os pesquisadores foram surpreendidos pela pandemia da Covid-19, no entanto, estavam limitados pelo percurso metodológico assumido até então.

A partir de um exemplo prático, mostramos que o potencial do reuso está na compreensão de questões ignoradas, quando na coleta dos dados. Essa nova maneira de se pensar a análise qualitativa de trabalhos empíricos já finalizados possibilitou o surgimento de um novo desenho de pesquisa para compreensão de novas questões. Os resultados também apontam para definições mais úteis e precisas, ligadas às ameaças, instabilidade e desafios do trabalho de músicos em contexto extremo.

Situações inesperadas em pesquisas qualitativas podem ser frequentes, sendo o pesquisador e o pesquisar também moldado pelo ambiente pesquisado. Nesta nova pesquisa, redesenhada em resposta às mudanças sociais produzidas pela pandemia de Covid 19, os pesquisadores responderam ao ambiente que se impôs à pesquisa, colhendo as interpretações dos entrevistados acerca do contexto que estavam vivendo. Tanto na atividade de pesquisa, quanto na atividade profissional dos músicos, o contexto também pode caracterizar um trabalho extremo, para além daquelas profissões pontuadas pela literatura.

Corti, L., Thompson, P. & Fink, J. (2004) Preserving, Sharing and Re-Using Data. In: Qualitative Research, C. Casselland G. Symon, Essential Guide to Qualitative Methods in Organizational Research, London: Sage Publications. Wainer, D. F. (2017). Entre música e tecnologia: condições de existência e funcionamento da indústria fonográfica brasileira no século XXI. Comunicação e Sociedade, 31, 311- Denzin, N. K. & Lincoln, Y. S. (2005) The discipline of qualitative research. In: Denzin, N. K.; Lincoln, Y. S. (Eds.). .The Sage Handbook Of Qualitative Research. London: Sage Publications.