Resumo

A afetividade e as capacidades cognitivas desempenham um papel central na escolha das estratégias de enfrentamento. Esses construtos foram fundamentais nesta pesquisa. Na área da saúde, os desafios são persistentes e dinâmicos (Garbuio & Wilden, 2018), não havendo soluções imediatas para os problemas enfrentados. Portanto, é crucial aprofundar a compreensão de como a afetividade e as capacidades cognitivas influenciam as escolhas de estratégias de enfrentamento, a fim de desenvolver abordagens mais eficazes para os profissionais de saúde lidarem com os desafios.

A maioria dos estudos não considera as emoções, o pensamento e a influência na percepção das adversidades dos médicos. As lacunas na literatura levantam o seguinte questionamento: como as estratégias de enfrentamento das adversidades, influenciadas pela afetividade e capacidades cognitivas, podem explicar o desenvolvimento da capacidade de resiliência na carreira médica? O objetivo do estudo é analisar as estratégias de enfrentamento influenciadas pela afetividade e capacidades cognitivas para explicar o desenvolvimento da resiliência na carreira médica.

Na área de negócios, os estudos sobre resiliência visam compreender a capacidade de recuperação de organizações e indivíduos diante de adversidades. Evidências mostram que os mecanismos de enfrentamento reduzem o estresse e levam a resultados psicológicos positivos, apesar dos sentimentos negativos enfrentados pelas pessoas (Shepherd, Saade, & Wincent, 2020). As estratégias de enfrentamento são respostas adotadas em situações adversas, influenciadas pela interação entre o indivíduo, o ambiente, sua personalidade e experiências de vida (Morero, Bragagnollo, & Santos, 2018).

Realizou-se uma pesquisa qualitativa exploratória e descritiva, que incluiu entrevistas individuais com 32 médicos da área pública e privada, além de um grupo focal com 8 alunos de medicina de uma universidade em São Paulo. Foram analisadas três fases distintas da carreira médica: (i) formação e desenvolvimento da carreira; (ii) busca por reconhecimento e estabilidade na carreira; e (iii) senioridade na profissão. A análise dos dados seguiu a abordagem de análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), com o auxílio do software Atlas.ti para organizar e categorizar as interpretações.

Os médicos enfrentam diversas adversidades no ambiente de trabalho e lidam com as dificuldades inerentes à profissão e à gestão dos negócios médicos. Constatou-se que as estratégias de enfrentamento dos médicos são influenciadas tanto pelas capacidades cognitivas quanto pela afetividade, desempenhando um papel essencial na resiliência da carreira. Compreender essa interação é crucial para enfrentar as adversidades de maneira eficaz. Para isso, é essencial fortalecer as capacidades cognitivas e afetivas dos médicos, proporcionando suporte emocional e promovendo estratégias de autocuidado.

Neste estudo, profissionais médicos em diferentes estágios de carreira e estudantes de medicina do último ano foram incluídos. Essa escolha de construtos é original para investigar esse contexto profissional. A análise desses construtos, considerando experiências e adversidades ao longo da trajetória de carreira, resultou em avanços teóricos nos campos da estratégia e do empreendedorismo. Essa abordagem permitiu compreender melhor o desenvolvimento da capacidade de resiliência, que desempenha um papel fundamental no comportamento empreendedor dos médicos e contribui para a gestão dos negócios.

Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70. Lisboa. Portugal. Morero, J. A. P., Bragagnollo, G. R., & Santos, M. T. S. (2018). Estratégias de enfrentamento: uma revisão sistemática sobre instrumentos de avaliação no contexto brasileiro. Revista Cuidarte, 9(2), 2257-68. Shepherd, D. A., Saade, F. P., & Wincent, J. (2020). How to circumvent adversity? Refugee-entrepreneurs' resilience in the face of substantial and persistent adversity. Journal of Business Venturing, 35(4), 105940.