Resumo

Em tempos de um pertinente crescimento da análise do imagético não-verbal nos estudos organizacionais (Cavedon, 2012; Sousa & Saraiva, 2022), este estudo considera que, igualmente, ainda há muito conteúdo imagético a ser explorado no escrito e no verbal, quando do estudo do multifacetado mundo do trabalho contemporâneo, especialmente porque a linguagem está imersa na cultura e em suas ideologias historicamente situadas, bem como a experiência de trabalho tem relação direta com o mundo, o outro e nós mesmos (Dejours et al, 2018).

O objeto foi problematizado a partir da seguinte questão de pesquisa: Quais representações sobre o mundo do trabalho contemporâneo ocupam o imagético do discurso feminino? Ou, dito de outra maneira: Quais as metáforas sobre o mundo do trabalho contemporâneo presentes no discurso de mulheres trabalhadoras? O objetivo desta fase da pesquisa foi compreender as representações sobre o mundo do trabalho contemporâneo presentes nas metáforas utilizadas no discurso de mulheres trabalhadoras.

As metáforas são imagens mentais socializadas via discurso, sobre objetos inscritos nas vivências dos sujeitos no mundo. Toma-se aqui a metáfora não em seu sentido tradicional, isto é, como adornamento linguístico, diferentemente, assume-se a concepção da linguística cognitiva de que as metáforas guardam relação com o pensar e o agir humanos no mundo, como uma espécie de imagética necessária ao discurso, mesmo que não de todo consciente para o sujeito falante (Lakkoff & Johnson, 2003), quando ele, ao fazer uma projeção metafórica, estende um domínio do conhecimento para outro (Silva, 2012).

Esta pesquisa caracteriza-se como integralmente qualitativa, porquanto utilizou técnicas qualitativas nas fases de coleta e de análise dos dados (Deslauriers & Kérisit, 2008). Decidiu-se prestar uma escuta ativa e interessada às mulheres nesse contexto ou condição de existência – ser mulher e ser trabalhadora -, sob o pressuposto da relação indissociável entre pensamento, linguagem e ação (Habermas, 1968; Lakoff & Johnson, 1980). Doze mulheres foram ouvidas e seu discurso analisado a partir da seleção das expressões metafóricas.

Os resultados são discutidos a partir das três categorias teóricas do mundo do trabalho que emergiram na narrativa totalizante, atravessando os domínios-fonte (física, biologia, antropologia): i) organizações; ii) relações; e iii) trabalho. Foram identificadas dez metáforas: a) organizações são continentes e/ou recipientes; b) organizações são organismos; c) organizações são seres humanos; d) liderança é posição (para frente e para cima); e) liderança é entonação; f) liderança é força; g) gravidez da trabalhadora é loucura; h) trabalho é corrida; i) trabalho é movimento; j) trabalho é peso.

As falas dessas mulheres denunciam a necessidade de maior equidade no trabalho contemporâneo, para que se construam ambientes organizacionais mais democráticos, diminuindo a exaustão física e também os danos emocionais dessas trabalhadoras. Para estudos futuros, sugere-se investigar em profundidade as representações femininas que associam trabalho e maternidade, para que as mulheres trabalhadoras sejam escutadas e consideradas de maneira holística, na integralidade de suas vidas.

Carli, L. L., & Eagly, A. H. (2016). Women face a labyrinth: An examination of metaphors for women leaders. Gender in Management, 31(8), 514-527. Dejours, C.; Deranty, J-P.; Renault, E.; Smith, N. H. (2018). The return of work in critical theory: self, society, politics. New York: Columbia University Press. Silva, L. A. da. (2012). As bases corporais da gramática: um estudo sobre a conceptualização e metaforização no português brasileiro. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, Universidade Federal de Goiás, Goiás.