Deficiência adquirida
Acidente de trabalho
Inclusão no trabalho
Área
Estudos Organizacionais
Tema
Diversidade, Diferença e Inclusão nas Organizações
Autores
Nome
1 - Joelma Cristina Santos UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI (UFSJ) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI)
2 - Maria Nivalda de Carvalho-Freitas UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI (UFSJ) - Departamento de Psicologia
Reumo
O trabalho é um dos principais referenciais para a configuração da subjetividade humana e, por isso, a aquisição de uma deficiência por acidente de trabalho pode produzir efeitos sobre todas as dimensões da vida de uma pessoa. Nesse sentido, o retorno ao trabalho pode acarretar grande carga emocional para a pessoa com deficiência adquirida e demandar, das organizações, políticas e práticas de inclusão que sejam estratégicas e produtivas, de modo a garantir o acolhimento e as adaptações necessárias para o bom desempenho do trabalhador reabilitado.
Acidentes laborais podem ter impacto econômico e psicossocial sobre trabalhadores, familiares, colegas de trabalho, organizações e sociedade como um todo. Entretanto, ainda são observadas lacunas sobre ações que possam promover um processo de retorno ao trabalho humanizado e efetivo, para organizações e trabalhadores, principalmente após a ocorrência de acidentes graves que acarretam deficiências. Dessa forma, esta pesquisa visa a investigar a perspectiva de pessoas com deficiência adquirida por acidente de trabalho sobre os seus processos de retorno ao trabalho.
A aquisição de uma deficiência por acidente de trabalho pode levar a uma sobreposição de discriminações: pela deficiência adquirida e pela condição do acidente (já que o trabalhador pode ser “culpabilizado” pelo ocorrido). O retorno ao trabalho pode ser fator estruturante para a continuidade da vida social – nos seus aspectos materiais e afetivos – e ter elementos que facilitam a reinserção (conhecimento sobre a empresa e a cultura organizacional, por exemplo), mas também dificultam esse reingresso (como necessidade de adaptações e mudanças nas atividades).
Considerando que a realização de entrevistas é de grande relevância para a identificação e a compreensão de práticas, crenças, valores e opiniões em contextos sociais específicos, optou-se por esta forma de coleta/produção de dados. Assim, foram entrevistadas, de forma aberta, 13 pessoas com deficiência física adquirida, a maioria homens reinseridos no mercado formal de trabalho. As entrevistas foram analisadas pelo método de análise de conteúdo, seguindo critérios semânticos. A pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética e seguiu princípios éticos no decorrer de sua realização.
O retorno ao trabalho de pessoas com deficiência adquirida por acidente de trabalho é permeado por fatores individuais, organizacionais e contextuais. A perspectiva dos trabalhadores ressalta o preconceito em relação à deficiência e a esse novo lugar ocupado, que ainda é inferiorizado no âmbito das relações sociais. Além disso, a adequação da organização às possibilidades das pessoas com deficiência, bem como a receptividade (ou não) de superiores imediatos e da gestão organizacional influenciam o senso de pertencimento e o comprometimento organizacional desses trabalhadores reabilitados.
A aquisição de uma deficiência devido a um acidente de trabalho coloca em questão o próprio contexto laboral como um ambiente que exclui a deficiência, mas que também pode ser produtor de deficiências, que impactam a vida dos trabalhadores para além dos seus espaços físicos. O retorno laboral destes trabalhadores pode demandar que tarefas antes exercidas sejam alteradas ou que outros cargos sejam propostos, a fim de atender às necessidades deles, como pessoas com deficiência, o que constituiu um desafio para organizações que ainda não são, verdadeiramente, inclusivas.
Carvalho-Freitas, M. N., & Marques, A. L. (2007). A diversidade através da história: a inserção no trabalho de pessoas com deficiência. Organizações & Sociedade, 14(41), 59-78.
Carvalho-Freitas, M. N., Silva, O. A., Tette, R. P. G., & Silva, C. V. S. (2017). Diversidade em contextos de trabalho: pluralismo teórico e questões conceituais. E&G Economia e Gestão, 17(48), 174-191.
Santos, J. C., & Carvalho-Freitas, M. N. (2018). Reinserção profissional: o trabalho após a aquisição de uma deficiência. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 70(3), 184-197.